segunda-feira, fevereiro 27, 2006
Um dia falaremos de Parker como de Mozart, de Miles como de Bethoven, de Coltrane como de Schubert, e ninguém achará estranho. Outras Vienas surgiram com o rolar de notas e anos.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Das Bicicletas
Nos fins de tarde
Vínhamos da praia
No toyota amarelo do meu avô
Eram amarelos os dias de praia
Sol amarelo
Areia amarela
Bananas
Uvas
Ameixas
Houve Verões de calções amarelos
Eu até era loiro
Passávamos no Ramada
E revoadas de ciclistas em bicicletas negros
Pareciam bando de pássaros
Eu gostava dessa cambiante de cor
Da ordeira malta ciclistica
Fim de praia
Recta interminável
Quase em Ovar
Os ciclistas negros do Ramada
Alguns com molas de roupa
Prendendo as calças
Olha, olha, aquele leva molas!
Não nos tocava
A ironia operária
De coincidir o fim do esforço
Com o esforço do pedal
Com a nossa volta quotidiana do amarelo
Fábricas era normal
Se até o meu avô tinha uma fábrica
Fazia arroz
E grão de arroz e grão de areia e molas
Princípios da mecânica
Tudo rolado nos idílicos Verões
Rolando bicicletas porque não
Bicicletas negras porque não
Hoje depois do emprego feito
Pego na minha bicicleta vermelha
Na mesma estrada vou ver o mar
Fumar um cigarro e voltar
Raramente vejo operários pedaleiros
E o toyota explodiu-me nas mãos em Leiria
Vínhamos da praia
No toyota amarelo do meu avô
Eram amarelos os dias de praia
Sol amarelo
Areia amarela
Bananas
Uvas
Ameixas
Houve Verões de calções amarelos
Eu até era loiro
Passávamos no Ramada
E revoadas de ciclistas em bicicletas negros
Pareciam bando de pássaros
Eu gostava dessa cambiante de cor
Da ordeira malta ciclistica
Fim de praia
Recta interminável
Quase em Ovar
Os ciclistas negros do Ramada
Alguns com molas de roupa
Prendendo as calças
Olha, olha, aquele leva molas!
Não nos tocava
A ironia operária
De coincidir o fim do esforço
Com o esforço do pedal
Com a nossa volta quotidiana do amarelo
Fábricas era normal
Se até o meu avô tinha uma fábrica
Fazia arroz
E grão de arroz e grão de areia e molas
Princípios da mecânica
Tudo rolado nos idílicos Verões
Rolando bicicletas porque não
Bicicletas negras porque não
Hoje depois do emprego feito
Pego na minha bicicleta vermelha
Na mesma estrada vou ver o mar
Fumar um cigarro e voltar
Raramente vejo operários pedaleiros
E o toyota explodiu-me nas mãos em Leiria
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
De enfiada
Ontem, após uma overdose de música, fixei as traves de madeira do meu tecto, a sentir-me peixe em mar de som. Antes, tinha lido nas notas de um CD, que no tempo de Mozart se tinha acesso, com sorte, até à música produzida pelos bisavós. Lembrei-me de Bach ( que agora só se diz Bach ) João Sebastião, que viveu e morreu músico menor, superado e até ridicularizado pelos próprios filhos ( quem os conhece, agora? ) Eu tenho umas cordas de um deles, e comprei por engano ( e são muito, muito boas ); isto porque me deu na real gana de pôr a minha Sonizinha ( c’est son petit nom ) a trabalhar nuns razoáveis 34 ( max. 35 ) e por a minha barraca de chão de cimento e tecto de madeira centenária a vibrar com tudo o que me surgisse. Não sei bem onde começou o frenesim; sopunho que com uns blues de Enapá 2000, seguido de Eric Clapton & The Yardbirds, depois mais um blu da Nina Simone ( Backlash Blues to be precise ), segui para a Georgia na Mind no Rei Carlos, fui até à Jamaica com o Bob a cantar já não sei quê, Amstronguizei com um Wonderful World, fui até ao Brasil onde Caetano rezou um Drão, e depois cuspiu um Navio Negreiro ( que é uma obra prima tão intensa que faz sangrar pedras das mãos ). E andei por Amália a trovar o tempo que passa, por Paredes a dançar português, a Maria João apareceu com o Rafael, Piazzolla entangome com o Libertango e Buenos Aires Hora Zero; Gardel meteu umas Colondrinas. Em Sud América, Chico cantou-me a faixa 3 das Cidades ( aquela que Diz: Em Lisboa, faz algazarra a malta em meu Castelo ); com tanto som, fui aos Paralamas do Sucesso e ouvi óculos, para mudar de ponto de vista; ainda tinha ouvido antes Zeca Pagodinho cantar a lama das ruas, depois de enfiada pus-me a ouvir Gil acústico e um copo de água deslumbrante pôs-me calmo. Há, e houve ainda Schubert tocado pela outra Maria João, e Um Hino à Alegria do Imortal Surdo ( quem ainda fica surdo sou eu ). Isto durou horas. Mas foi bom. Faço isto por vezes, correr músicas ao sabor do apetite que a que toca dá, uma espécie de tricotar som e palavra, uma opera de papel em que o meu papel é de maestro e ouvinte. Isto tudo porque me senti rico de música e me apeteceu esbanjar. De enfiada.
terça-feira, fevereiro 21, 2006
Santa Cruz
Pede-me a tristeza um poema
A dor um verso que a amenize
A lágrima um lenço de palavras
A raiva um grito escrito em sangue
Pede-me a razão um porquê
Pedem-me as mãos que as use
Pede-me o coração uma arma
Diz-me a cabeça que não
De Timor banhado em sangue
Servo do fogo, pasto da ira
Ouço o choro contido, o som abafado
De mais um corpo que cai olvidado
Adeus, ó esperança que morres nas ruas de Díli
Adeus, ó canto de cisne do Império
Banhada pelo mar que te deu ao mundo
Nunca seu sal foram tanto as nossas lágrimas
Desculpa Timor tanto termos navegado
Mais uma vez não valeu a pena
Nas malhas que este império teceu
Enredaram teu coração, amortalharam-te a vida
Pátria imensa, a teus filhos deserdaste
Partiste ao mundo e não voltaste a casa
E agora a tua casa não é mais
Senão o fumo de teus pendões caídos
Porquê esta gesta carniceira?
Que demónio aparelhou aquelas naus?
Praias vermelhas de meu País
Tuas areias não são senão túmulos
Desculpa Timor tanto termos navegado
Desculpa mundo, os mundos que te demos
Adamastor nunca esteve só
E de seu cabo não nasceram esperanças
Cumpre este país de novo o seu destino
Carrasco da esperança, irmão do ódio
E o monstrengo rompante no seu corcel negro
Tem os cascos sobre pilhas de ossos
Porquê, ò belos soldados de Cristo
Não vos crucificamos nos mastros das caravelas?
Quem vos deixou partir a tal destino
Cheios da glória que em vão espalharam?
Ai mar azul, abre teu peito
Afunda o passado do meu povo
Cobre d’água as infames costas
Donde partiu a dor, o ferro, a morte
Ó ambição de meus avós
Ò cobiça, ganância, fome
Transfiguradas em Fé e em Império
Maldito é o teu berço e teu caixão
A dor um verso que a amenize
A lágrima um lenço de palavras
A raiva um grito escrito em sangue
Pede-me a razão um porquê
Pedem-me as mãos que as use
Pede-me o coração uma arma
Diz-me a cabeça que não
De Timor banhado em sangue
Servo do fogo, pasto da ira
Ouço o choro contido, o som abafado
De mais um corpo que cai olvidado
Adeus, ó esperança que morres nas ruas de Díli
Adeus, ó canto de cisne do Império
Banhada pelo mar que te deu ao mundo
Nunca seu sal foram tanto as nossas lágrimas
Desculpa Timor tanto termos navegado
Mais uma vez não valeu a pena
Nas malhas que este império teceu
Enredaram teu coração, amortalharam-te a vida
Pátria imensa, a teus filhos deserdaste
Partiste ao mundo e não voltaste a casa
E agora a tua casa não é mais
Senão o fumo de teus pendões caídos
Porquê esta gesta carniceira?
Que demónio aparelhou aquelas naus?
Praias vermelhas de meu País
Tuas areias não são senão túmulos
Desculpa Timor tanto termos navegado
Desculpa mundo, os mundos que te demos
Adamastor nunca esteve só
E de seu cabo não nasceram esperanças
Cumpre este país de novo o seu destino
Carrasco da esperança, irmão do ódio
E o monstrengo rompante no seu corcel negro
Tem os cascos sobre pilhas de ossos
Porquê, ò belos soldados de Cristo
Não vos crucificamos nos mastros das caravelas?
Quem vos deixou partir a tal destino
Cheios da glória que em vão espalharam?
Ai mar azul, abre teu peito
Afunda o passado do meu povo
Cobre d’água as infames costas
Donde partiu a dor, o ferro, a morte
Ó ambição de meus avós
Ò cobiça, ganância, fome
Transfiguradas em Fé e em Império
Maldito é o teu berço e teu caixão
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Case Study
Este dia longo
De sol, chuva e vento
Parece terminar
Empatado
Nada a nada
Resultado final
Soma zero
Antes ainda era meia vitória
Agora é terça parte
Para ambos
Pergunto-me o destino dos pontos perdidos
Haverá um destino dos pontos perdidos?
Será turístico?
Há dias em que a ironia
Me soa como orgânica
Como própria, idiossincrática
Je suis un buffon
Outros não
Sou sério
Não credível, mas sério
Também, quem iria acreditar em mim?
Poeta de mão cheia
De nada
Descrente da escrita
No entanto praticante
Dela
Ai meu rebanho de contradições
Meus versos
Polidos como os seixos que junto
Procurando na sua erosão patente
Reflexos de mi alma
Dormente
Há dias, há, assim
Em que me sinto elemento
Integrado, funcional
Outros não
Sou sério
Não sisudo, desalegre
Também, quem me sorriria?
Estátua da Ilha da Páscoa
Adiantado ainda é Carnaval
Viro costas ao mar
A minha pedra matou as àrvores
Case study
Da ecologia
Nunca lá foram encontrados coelhos
"I'm the Easter Bunny, Hurray"
Cantava Bugs Bunny
E eu subscrevo
De sol, chuva e vento
Parece terminar
Empatado
Nada a nada
Resultado final
Soma zero
Antes ainda era meia vitória
Agora é terça parte
Para ambos
Pergunto-me o destino dos pontos perdidos
Haverá um destino dos pontos perdidos?
Será turístico?
Há dias em que a ironia
Me soa como orgânica
Como própria, idiossincrática
Je suis un buffon
Outros não
Sou sério
Não credível, mas sério
Também, quem iria acreditar em mim?
Poeta de mão cheia
De nada
Descrente da escrita
No entanto praticante
Dela
Ai meu rebanho de contradições
Meus versos
Polidos como os seixos que junto
Procurando na sua erosão patente
Reflexos de mi alma
Dormente
Há dias, há, assim
Em que me sinto elemento
Integrado, funcional
Outros não
Sou sério
Não sisudo, desalegre
Também, quem me sorriria?
Estátua da Ilha da Páscoa
Adiantado ainda é Carnaval
Viro costas ao mar
A minha pedra matou as àrvores
Case study
Da ecologia
Nunca lá foram encontrados coelhos
"I'm the Easter Bunny, Hurray"
Cantava Bugs Bunny
E eu subscrevo
domingo, fevereiro 19, 2006
Aguardador de Primaveras
Ainda é cedo
Na madresilva já há flores
Passei o limoeiro
Já cheira
Mas ainda é cedo
Num compasso que acelera
Brilha mais sol cada dia
E há uma tépidez no vento
Uma sugestão de morno
Aguardo a Primavera como espero comboios
Olhar fixo no inevitável carril
Mãos nos bolsos assobio Vivaldi
Acuso-me agora
"Name dropper"
Sim, sou eu
Colecciono citações
Sonoras
No clássico desafio
Que sentido cederias
Eu cederia o práctico
E viveria baralhado com o Mundo
Citando
Mal
( Na minha sala da Primária
Havia uma régua de medir alturas
E nunca fui o mais alto
Para quê começar agora? )
Sou um aguardador de Primaveras
E só
Anseio dias tépidos
E sol
Na madresilva já há flores
Passei o limoeiro
Já cheira
Mas ainda é cedo
Num compasso que acelera
Brilha mais sol cada dia
E há uma tépidez no vento
Uma sugestão de morno
Aguardo a Primavera como espero comboios
Olhar fixo no inevitável carril
Mãos nos bolsos assobio Vivaldi
Acuso-me agora
"Name dropper"
Sim, sou eu
Colecciono citações
Sonoras
No clássico desafio
Que sentido cederias
Eu cederia o práctico
E viveria baralhado com o Mundo
Citando
Mal
( Na minha sala da Primária
Havia uma régua de medir alturas
E nunca fui o mais alto
Para quê começar agora? )
Sou um aguardador de Primaveras
E só
Anseio dias tépidos
E sol
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
1143
Mil cento e quarenta e três ( quem não sabe esta data não é Português ); passei pelo meu pefil a vir de um lado qualquer, é o número que aponta nas visualizações. Senti-me deveras patriótico.
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Da Caligrafia
1. Vagamente traço a linha
Às minhas palavras futuras
Desenho-as antes de as ler
No processo velho de aprender
A soma dos traços a igualar os sentidos
A descrever sentidos
Quando as desço ao ecrã
( Porque elas descem na hierarquia dos meios )
Perde-se o carácter do caracter
A escrita normaliza-se
Domestica-se
Ai este tempo sem missivas
Torna massivas as palavras que desenho
Antes do digital, digitais
Provinham dos dedos agarrados na pena
( A minha Avô ainda dizia pena )
Orgânicas de tinta, folha; não eléctricas
Eclécticas
2. Já quase não uso cadernos
Os que uso deixo a meio
Marcando capítulos de ausência
3. Teclar é escrever igual
Com mais liberdade de apagar
Eliminando todo o erro; a memória do erro
Mas quando é ainda tempo de caneta
Parecem-me sair as coisas
Mais mansas
No prato desfila o inevitável Mozart
O que queria mais mãos para poder
Escrever tudo o que tinha dentro
Em mim nada; só refluxo
A paz de me saber só
No intervalo do som o som da esferográfica
E mais nada
4. Sem assunto este assento
Colecção de aliterações
Agora é assim
Teclar mudou-me o estilo
E é capaz de me ter mudado a vida
Não me mudou porém a caligrafia
Tremenda, a minha caligrafia
Os fins justificam os meios
Preposição com que habitualmente discordo
Por isso discorro correndo tinta
Em cadernos de linhas
Desenhando as palavras antes de as ler
Depois de as saber
Vãs
Às minhas palavras futuras
Desenho-as antes de as ler
No processo velho de aprender
A soma dos traços a igualar os sentidos
A descrever sentidos
Quando as desço ao ecrã
( Porque elas descem na hierarquia dos meios )
Perde-se o carácter do caracter
A escrita normaliza-se
Domestica-se
Ai este tempo sem missivas
Torna massivas as palavras que desenho
Antes do digital, digitais
Provinham dos dedos agarrados na pena
( A minha Avô ainda dizia pena )
Orgânicas de tinta, folha; não eléctricas
Eclécticas
2. Já quase não uso cadernos
Os que uso deixo a meio
Marcando capítulos de ausência
3. Teclar é escrever igual
Com mais liberdade de apagar
Eliminando todo o erro; a memória do erro
Mas quando é ainda tempo de caneta
Parecem-me sair as coisas
Mais mansas
No prato desfila o inevitável Mozart
O que queria mais mãos para poder
Escrever tudo o que tinha dentro
Em mim nada; só refluxo
A paz de me saber só
No intervalo do som o som da esferográfica
E mais nada
4. Sem assunto este assento
Colecção de aliterações
Agora é assim
Teclar mudou-me o estilo
E é capaz de me ter mudado a vida
Não me mudou porém a caligrafia
Tremenda, a minha caligrafia
Os fins justificam os meios
Preposição com que habitualmente discordo
Por isso discorro correndo tinta
Em cadernos de linhas
Desenhando as palavras antes de as ler
Depois de as saber
Vãs
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Cisne
Não foi por um dia ter ouvido Carl Sagan dizer que somos todos filhos das estrelas que eu passei a acreditar que a minha mãe tinha feito filmes em Hollywood; Não foi por me terem dito que Pedro era a pedra em que Jesus edificaria a sua Igreja que eu passei a acreditar que eram de homens os alicerces das coisas. Não foi por ter duvidado de mim que duvidei de tudo, não foi por ter tido a certeza de mim que jurei as certezas alheias. Olho e vejo. Cheiro e sinto. Toco. Provo. Maquina sentimental, o corpo que aqui sou tecla e ecrã, ouvindo sonatas para cordas de Rossini, esta em sol maior, quando faz sol e frio lá fora, é. Tenho para mim que a vida é uma expressão de busca e caminho; que a felicidade umas vezes é meta outras origem. Sei que nasci de um orgasmo, sei que o prazer e a dor se comungaram quando acordei no mundo. Sei que todos fazemos parte de um todo; e que esse todo paradoxal é maior, muito maior que todas as suas partes. E se esta matemática absurda das contas não certas se resolve entre fé e desejo, entre partida e crescimento, sei que a culpa não é minha. Filho das gerações, não carrego heranças que não sejam genéticas. Vitima de cultura, carrasco de gramática, escrevo porque tenho tempo. Não, o meu coração pedreiro sabe que não habitará esta mole de palavras. E o empreiteiro eu não tirará lucro destas pedras. Tenho é pena dos cisnes, mesmo daqueles que nunca ousaram ser patinhos feios, e recusaram espelhos por acharem que não mereciam as Alices que por lá se escondem. Sim, eu às vezes olho a vida, essa mestra de ironia e sinto-me deslumbrado. Um cisne na Áustria esquartejado no telejornal; um emigrante, esfaimado e doente, procurando um abrigo mais a Norte, morrendo às portas da antiga Europa carregando pestes modernas. E põe-me assim a ironia natural das belas asas para sempre cerradas. E penso no mote da modernidade: A única constante é a mudança; e busco mote para mim: a beleza cambiante transcende a lágrima. E descubro-me romântico. Tenho aqui na parede uma bela gravura de Camilo; outra de Bordallo; outra de Pessoa desenhado por Almada; por cima um D. Quixote de Picasso; falta-me um cisne, mas, afinal, tenho a certeza que não sou o cisne, e isso basta-me.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
A Última Verdade Que Permanece Erguida
Abraçado à loucura dancei, há tempos, uma dança de salão. Resta-me constante a sua mão no meu ombro, a sua promessa de ficar, de ser eu quando eu não me quisesse sadio. Hoje de entre portas felizmente cerradas chegam-me ecos dessas voltas. Sereias de exaltado, anzol libertário. Não tenciono ir, mas na história das vontades pesam mais as dóceis que as férreas. Tirano de mim, não me trará a megalomania desejos de voar entre conceitos, de ver de novo a realidade minha, o fuso das horas meu?
É boa a loucura, doce, molda-se ao desejo e cumpre-o. Pena tenho de a saber tão escassa. Se ela em voto solene dissesse: Até que a morte nos separe; eu ia. Agora assim, a prestações, parece-me usurário o juro, faca troca, pobre escolha. Domarei de mim o Palomino rei da pradaria dourado; trotarei o estreito caminho do normal.
Trago nos olhos fechados muita coisa que não vi falha-me no banco de dados tanto que sei que li. A normalidade corre como um rio à minha beira e essa distância ínfima de eu ao rio é suficiente para sentir-me seco; a beleza do Padrão, do correcto, do isto é isto e nada mais; contra a beleza do grito megalómano, do eu dizer Sou Eu e nada mais quero, de saber o coração meu igual ao mundo e transbordá-lo.
Pois, eu podia-vos falar de não ser igual, mas seria assim igual a todos os diferentes; e nas minhas laboriosas mãos podia correr as contas de um rosário de outras e diversas pedras; mas a minha vida tem sido buscar afinidades, louvar afinações. Quando finalmente fui eu que desafinei, amei o erro que me davam e ele nunca mais me largou. Sim, este desaparafusado amante de simetrias sabe-se hoje ausente dos antigos amores; e carrega uma cruz de dissonância e não sabe a língua das notas para a pôr em musica.
Um dia a minha cabeça encheu-se de vozes e não eram minhas; e uma enxurrada de compreensão do mundo e das coisas iluminou-me, como antigamente iluminava os iluminados. Como num órgão vetusto pés e mãos tocaram uma melodia estranha e os registos, e os pedais, o teclado, eram meus e eu
Depois pegaram em mim e fecharam-me e deram-me drogas e conselhos, que conceitos achavam que eu tinha. Mas já não tinha. Perdi talvez o respeito à minha sanidade, e se bem que seja só louco sazonal o poder do desvario ainda é forte em mim.
A minha inteligência por uma vez não foi suficiente; desde aí sei que nunca será suficiente
E daí, pergunto agora à única voz que ainda me resta: Consciência, porque me roubaste o inconsciente? Sanidade, porque me apresentas-te à loucura, quando sabias que eu a amaria muito mais que a ti?
E olho para as lições que me deram, e sei certo e errado, bom e mau; mas também sei que já não gosto de escolher entre degraus. A minha alma é agora uma escada barroca que sobe e desce enfeitada a nada; a minha vontade, que eu julgava lúcida, jaz traída à mercê de mim mesmo.
Amo a loucura, mas sei que não devia, mas sei que louco nem me resta a noção de dívida. Os mecanismos da loucura são os mesmos do génio, disse alguém que não recordo; no meu cérebro disfuncional, que bastas vezes acusam de inteligente, é talvez essa a última verdade que permanece erguida.
É boa a loucura, doce, molda-se ao desejo e cumpre-o. Pena tenho de a saber tão escassa. Se ela em voto solene dissesse: Até que a morte nos separe; eu ia. Agora assim, a prestações, parece-me usurário o juro, faca troca, pobre escolha. Domarei de mim o Palomino rei da pradaria dourado; trotarei o estreito caminho do normal.
Trago nos olhos fechados muita coisa que não vi falha-me no banco de dados tanto que sei que li. A normalidade corre como um rio à minha beira e essa distância ínfima de eu ao rio é suficiente para sentir-me seco; a beleza do Padrão, do correcto, do isto é isto e nada mais; contra a beleza do grito megalómano, do eu dizer Sou Eu e nada mais quero, de saber o coração meu igual ao mundo e transbordá-lo.
Pois, eu podia-vos falar de não ser igual, mas seria assim igual a todos os diferentes; e nas minhas laboriosas mãos podia correr as contas de um rosário de outras e diversas pedras; mas a minha vida tem sido buscar afinidades, louvar afinações. Quando finalmente fui eu que desafinei, amei o erro que me davam e ele nunca mais me largou. Sim, este desaparafusado amante de simetrias sabe-se hoje ausente dos antigos amores; e carrega uma cruz de dissonância e não sabe a língua das notas para a pôr em musica.
Um dia a minha cabeça encheu-se de vozes e não eram minhas; e uma enxurrada de compreensão do mundo e das coisas iluminou-me, como antigamente iluminava os iluminados. Como num órgão vetusto pés e mãos tocaram uma melodia estranha e os registos, e os pedais, o teclado, eram meus e eu
Depois pegaram em mim e fecharam-me e deram-me drogas e conselhos, que conceitos achavam que eu tinha. Mas já não tinha. Perdi talvez o respeito à minha sanidade, e se bem que seja só louco sazonal o poder do desvario ainda é forte em mim.
A minha inteligência por uma vez não foi suficiente; desde aí sei que nunca será suficiente
E daí, pergunto agora à única voz que ainda me resta: Consciência, porque me roubaste o inconsciente? Sanidade, porque me apresentas-te à loucura, quando sabias que eu a amaria muito mais que a ti?
E olho para as lições que me deram, e sei certo e errado, bom e mau; mas também sei que já não gosto de escolher entre degraus. A minha alma é agora uma escada barroca que sobe e desce enfeitada a nada; a minha vontade, que eu julgava lúcida, jaz traída à mercê de mim mesmo.
Amo a loucura, mas sei que não devia, mas sei que louco nem me resta a noção de dívida. Os mecanismos da loucura são os mesmos do génio, disse alguém que não recordo; no meu cérebro disfuncional, que bastas vezes acusam de inteligente, é talvez essa a última verdade que permanece erguida.
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
Amor de Nós ou Ficções à Volta da Esperança ( a S. )
K.581
A ti que não vi ontem
Vai singela esta homenagem
A ti que afinal nunca vi
Sai-me com pena esta imagem
Bela como a noite mais escura
Brilhante como o claro dia
Nunca te vi como ontem
E ontem mesmo não te vi
Cego como sempre afinal
Penso em ti, e não és nada
Senão o que de ti nunca vi
Só a sombra de uma voz
Um clarinete de Mozart
transbordando melancolia
Está assim meu coração
Brilha, brilha a melodia
A ti que afinal não vi ontem
A ti que nunca te vi
Dedico um clarinete
Brilha, brilha a melodia
Ante mim
A ti que hoje já vi
Dedico por ora estas linhas
A ti que me fazes tremer
Falo palavras baixinhas
És como a corrente eléctrica
Ora subterrânea, ora aérea
Fazes-me vibrar
De ambas as maneiras
Debaixo do cabelo
Olhaste para mim
E eu senti-me
Senti-te
A ti que hoje já vi
Espero risonhos futuros
Sê feliz
Que eu sem ti não sou
Declaro!
Se for um dia destino
Cruzar teu rumo, ir
Onde tu fores; mais
Caminhar mas contigo
Se te der nas mãos
O que quiseres de
Mim, não sei quê de
Mim que tu queiras
Se fores eco desta
Voz já fraca, um dia
Vou gritar teu nome
E tu vais ouvi-lo como
Se viesse de ti para ti
Ribombando qual
Trovão fundador de
Fés mais transcendentes
( Que amores pequenos
Já me cansam e tu
És da marca dos amores
Imensos )
Imerso estou eu na
Recordação de ti
Tricotando malhas
De desejo e futuro
Bicolores os resultados
Quando um dia os vestires
Ficarás ainda mais bela
Por isso, abre os ouvidos
E ao me ouvires gritar
O teu nome como quem
Se afoga, salva-me rápida
Da água fria do sem ti
Sentimentos dizemos aos
Vivos quando se lamentam
Ausências perpétuas, não,
Não me-os dês ainda pois
Eu quero um dia cruzar
Teu rumo, passear mão
Na mão o mesmo trilho
Fazer futuro de nós
Eu ainda quero gritar
Teu nome nas praças
E nas ruas e decorar
As minhas recordações
Com os teus olhos, os
Teus cabelos, a maneira
Como te mexes e fazes
Mexer ‘meu coração
Irrequieto. Até lá
Mantém-te atenta às
Andorinhas que já
Quase voltaram, e pede
À Primavera um amor
Novo para dares a quem
To mereça. Eu espero
Aqui, nesta encruzilhada
Por ti à procura de amores
De novas cores para te
Vestir nesta nova estação
Que já não tarda
Declaro! 2
Toma meu rumo. Segue
Este grito escrito e juro
Pelas andorinhas, que
Hei-de fazer por merecer-te
Toma meu rumo e ao
Encontrares-me diz
Baixinho é finda a
Espera amor, é finda
Que quem jura pelas
Andorinhas não é de mentir
É de voar sazonalmente
E de acreditar piamente
Dou-te a cor da primavera
Se a quiseres e o cheiro
Das flores desabrochando
- Toma meu rumo!
Nada
A ti que vi nos meus sonhos
Selvagem e doce nos desejos
Cumpridos não digo hoje mais
Nada
Sonhos não se partilham os
Meus pelo menos não é assim
Como se parte de mim não fosse
Nada
Para ti é suposto partilhar tudo
Como se Fidelidade fosse
Confissão e Profissão de Fé ?
Nada
É mais errado neste amor de
Nós que ainda é só meu sou
Dono e senhor inclusive do
Nada
Que ao acordar te tornaste
Fumo doce incensando o
Meu acordar cansado, o meu
Nada
Sem ti este amor de nós
Vale os meus sonhos e
Vale tanto como se valesse
Nada
Mas nada te direi do
Amor de nós quando
For hora de ires vai
Eu ficarei sempre com
Nada
E se se cumprir este
Amor de nós nada
Te direi da história do
Antes desse amor de nós
Nada
E como a escrevo dia
A dia se tu a leres um
Dia de quem foi S
Para mim nada te direi
Nada!
Acto falhado
Chega o fim deste dia
Marcado pelo engano
O meu e o teu
Coincidências ferozes
Uma semana deserta de ti
Um oásis de voz
Trémula e hesitante
Não reconhecida
Pressentida
Depois confirmada
Era o número de quem?
Há, existem milagres nas estrelas
Celestes os corpos
Vistos por uns e outros
Direcções várias
Afinal não era engano
Ficou um desejo eléctrico
Telefónico e desfasado
Entre ouvir e saber
Entre não ver e ouvir
Fim
A estrada longa
Começada com um passo
O caminho novo
A desbravar como um mato
Metafórico
És destino desta partida
És fonte deste rio
Sabes ao mar amargo da chegada
‘Se eu lá chegar
Estás
Aqui e no fim
És caminho e fim
Ando cego
Seguindo cheiros
De memórias construídos
Mapas que desenho
Em linhas de verso
Em rimas de folhas
Caminho e fim
Se eu lá chegar
És
Só não sei o quê
Apenas te sei motivo de ida
Motor de movimento, destino almejado
Apenas me sei
Indo
Soprado de brisas
Partido de ti para chegar a ti
Estou a meio de nós
Nas minhas costas sinto teus olhos
À minha frente miro teus olhos
Sou
Só não sei o quê
Apenas me sei movido a ti
Motor em movimento, viajante empenhado
‘Se a i chegar
Hás-de cheirar tu mar d’outra maneira
Quado Chegar
Idolatria
Na mulher em que acredito
Moram pedaços de mim
Estátua pobre d’arenito
Frágil como um dia assim
Desabrochado entre o frio
Ai pobre é até de versos
Ai este amor tão vazio
Como de Fé os Conversos
Bate-me este coração quente
Enchem-me imagens de ti
Tenho p’ra mim q’é presente
Só o dia em que te vi
Desde lá c’ando perdido
Sem luz com’ encarcerado
Um vaga-lume iludido
P’la clara manhã voando
Pela noite escura e fria
Ando eu como possesso
Sem motivo d’alegria
Sendo esta dor o compasso
De uma procissão perdida
De andor que não tem santo
Tenha na alma uma ferida
Do tamanho do encanto
Daquela em ‘que me acredito
Piamente e empenhado
Só nela penso e medito
Sou peixe ‘em rede apanhado
Falta aqui falar de esperança
Que de fé já se falou
Espero de ti um futuro
Que no presente já estou
E ‘stás tu sempre comigo
Agarrado estou em ti
És imagem eu bem sei
Mal de mim se me perdi
Que ídolos de pés de barro
Mesmo os de pedra mole
São para carregar como fardo
Não imagem a quem se ‘imole
O cordeiro deste amor
Vou apear teu altar
Faz-me tu só um favor
Proíbe-me de acreditar
Faz-me desta a derradeira
Oração à tua beira
Manda-me lá p’ra bem longe
- Ai do dia em que te vi
Visitação
Relâmpago
Cortaste-me os olhos em luz resplandecente
Ficou trovão o meu coração
Ruído imenso
Em silêncio
Amo normalmente
Como preguiça sonolenta
Subindo lentamente a árvore
Nadando lentamente o rio
Em silêncio
Mas há dias
Diferentes
Acelerados como a luz do sol
Em que os meus olhos piscos
Se enchem de ti
Se abrem em espantos
Tempestade, Tempestade
Arrasas quotidiana os meus telhados
Terramoto nas minhas fundações
‘Só quando te vejo
Turbulenta em teus gestos que imagino
Olhar para ti sem ter por horas
Os relógios do mundo
Saber de ti todo o detalhe
Adorar-te
Fazer de ti a deusa do trovão
Mas não
Prefiro-me vagarosa preguiça
Só eu ocasionalmente cego
Pela luz de teu relâmpago
Lentamente ofuscado
Por teu brilho solar
Por teu imenso ruído
Surdo à esperança
De te ter um dia
Domesticada pelas cercas de mim
Abraçada, tu a Indómita
Por estes braços fracos
Folclore
Sou d’ essência dividido
Minha cara tem dois lados
Passo por mim fronte a ‘espelhos
Minha fronte sem sentido
Em minha cara deserta
Só ‘luz em meus olhos vejo
São diferentes um do outro
Um é ânsia outro desejo
Minhas mãos não estão de acordo
Cada uma tem seu lado
Submetidas nas tarefas
Ao meu coração gelado
Hoje quero ir para lá
Amanhã vou estar aqui
Nunca sei haver destino
Já só sei que te perdi
Que o ‘meu rumo eras tu
Só tu a ‘minha união
Sou como irmão desavindo
Siamês sem opção
Tarda o dia em que te esqueça
Vai chegar tal não duvido
Vou vivendo separado
Esperando enfim olvido
Tarda o dia em que te esqueça
Vai chegar sem opção
Vou vivendo dividido
Gelado de coração
Amanhã meu nome é esperança
Hei-de ver o novo dia
Em que unido enfim renasça
Em que me torne alegria
Adios Muchacha
Tenho hora d’ir embora
P’ra breve está a partida
Se cá ficas não m’importa
Vou correr outro caminho
Versejar outro horizonte
Saudades só do perdido
Adeus digo à luz velada
Em teus olhos pressentida
Guarda-os em boa guarda
Vou-me embora
Velha brisa
Sopra agora sem morada
Vou-me embora
Não me esperes
Já não sei olhar p’ra trás
Vou seguir ledo e ligeiro
Vai-me ‘levar a Nortada
Toma lá este sorriso
Como um adeus derradeiro
Fica porto qu’eu vou barco
Por uma estrada sem marco
Fica aqui à Monumento
Estátua partida de mim
Que eu cá estou já donde vim
Pela estrada caminhando
De assovio no lábio
Trazendo recordação
Daquilo que nunca fiz
Dos teus olhos mui serenos
Dos entardeceres amenos
Que te julgava presente
Que te sonhava comigo
Afinal ‘estavas ausente
E meu coração partido
Fez as malas e fugiu
Trazendo recordação
De ti que nunca te viu
A ti que não vi ontem
Vai singela esta homenagem
A ti que afinal nunca vi
Sai-me com pena esta imagem
Bela como a noite mais escura
Brilhante como o claro dia
Nunca te vi como ontem
E ontem mesmo não te vi
Cego como sempre afinal
Penso em ti, e não és nada
Senão o que de ti nunca vi
Só a sombra de uma voz
Um clarinete de Mozart
transbordando melancolia
Está assim meu coração
Brilha, brilha a melodia
A ti que afinal não vi ontem
A ti que nunca te vi
Dedico um clarinete
Brilha, brilha a melodia
Ante mim
A ti que hoje já vi
Dedico por ora estas linhas
A ti que me fazes tremer
Falo palavras baixinhas
És como a corrente eléctrica
Ora subterrânea, ora aérea
Fazes-me vibrar
De ambas as maneiras
Debaixo do cabelo
Olhaste para mim
E eu senti-me
Senti-te
A ti que hoje já vi
Espero risonhos futuros
Sê feliz
Que eu sem ti não sou
Declaro!
Se for um dia destino
Cruzar teu rumo, ir
Onde tu fores; mais
Caminhar mas contigo
Se te der nas mãos
O que quiseres de
Mim, não sei quê de
Mim que tu queiras
Se fores eco desta
Voz já fraca, um dia
Vou gritar teu nome
E tu vais ouvi-lo como
Se viesse de ti para ti
Ribombando qual
Trovão fundador de
Fés mais transcendentes
( Que amores pequenos
Já me cansam e tu
És da marca dos amores
Imensos )
Imerso estou eu na
Recordação de ti
Tricotando malhas
De desejo e futuro
Bicolores os resultados
Quando um dia os vestires
Ficarás ainda mais bela
Por isso, abre os ouvidos
E ao me ouvires gritar
O teu nome como quem
Se afoga, salva-me rápida
Da água fria do sem ti
Sentimentos dizemos aos
Vivos quando se lamentam
Ausências perpétuas, não,
Não me-os dês ainda pois
Eu quero um dia cruzar
Teu rumo, passear mão
Na mão o mesmo trilho
Fazer futuro de nós
Eu ainda quero gritar
Teu nome nas praças
E nas ruas e decorar
As minhas recordações
Com os teus olhos, os
Teus cabelos, a maneira
Como te mexes e fazes
Mexer ‘meu coração
Irrequieto. Até lá
Mantém-te atenta às
Andorinhas que já
Quase voltaram, e pede
À Primavera um amor
Novo para dares a quem
To mereça. Eu espero
Aqui, nesta encruzilhada
Por ti à procura de amores
De novas cores para te
Vestir nesta nova estação
Que já não tarda
Declaro! 2
Toma meu rumo. Segue
Este grito escrito e juro
Pelas andorinhas, que
Hei-de fazer por merecer-te
Toma meu rumo e ao
Encontrares-me diz
Baixinho é finda a
Espera amor, é finda
Que quem jura pelas
Andorinhas não é de mentir
É de voar sazonalmente
E de acreditar piamente
Dou-te a cor da primavera
Se a quiseres e o cheiro
Das flores desabrochando
- Toma meu rumo!
Nada
A ti que vi nos meus sonhos
Selvagem e doce nos desejos
Cumpridos não digo hoje mais
Nada
Sonhos não se partilham os
Meus pelo menos não é assim
Como se parte de mim não fosse
Nada
Para ti é suposto partilhar tudo
Como se Fidelidade fosse
Confissão e Profissão de Fé ?
Nada
É mais errado neste amor de
Nós que ainda é só meu sou
Dono e senhor inclusive do
Nada
Que ao acordar te tornaste
Fumo doce incensando o
Meu acordar cansado, o meu
Nada
Sem ti este amor de nós
Vale os meus sonhos e
Vale tanto como se valesse
Nada
Mas nada te direi do
Amor de nós quando
For hora de ires vai
Eu ficarei sempre com
Nada
E se se cumprir este
Amor de nós nada
Te direi da história do
Antes desse amor de nós
Nada
E como a escrevo dia
A dia se tu a leres um
Dia de quem foi S
Para mim nada te direi
Nada!
Acto falhado
Chega o fim deste dia
Marcado pelo engano
O meu e o teu
Coincidências ferozes
Uma semana deserta de ti
Um oásis de voz
Trémula e hesitante
Não reconhecida
Pressentida
Depois confirmada
Era o número de quem?
Há, existem milagres nas estrelas
Celestes os corpos
Vistos por uns e outros
Direcções várias
Afinal não era engano
Ficou um desejo eléctrico
Telefónico e desfasado
Entre ouvir e saber
Entre não ver e ouvir
Fim
A estrada longa
Começada com um passo
O caminho novo
A desbravar como um mato
Metafórico
És destino desta partida
És fonte deste rio
Sabes ao mar amargo da chegada
‘Se eu lá chegar
Estás
Aqui e no fim
És caminho e fim
Ando cego
Seguindo cheiros
De memórias construídos
Mapas que desenho
Em linhas de verso
Em rimas de folhas
Caminho e fim
Se eu lá chegar
És
Só não sei o quê
Apenas te sei motivo de ida
Motor de movimento, destino almejado
Apenas me sei
Indo
Soprado de brisas
Partido de ti para chegar a ti
Estou a meio de nós
Nas minhas costas sinto teus olhos
À minha frente miro teus olhos
Sou
Só não sei o quê
Apenas me sei movido a ti
Motor em movimento, viajante empenhado
‘Se a i chegar
Hás-de cheirar tu mar d’outra maneira
Quado Chegar
Idolatria
Na mulher em que acredito
Moram pedaços de mim
Estátua pobre d’arenito
Frágil como um dia assim
Desabrochado entre o frio
Ai pobre é até de versos
Ai este amor tão vazio
Como de Fé os Conversos
Bate-me este coração quente
Enchem-me imagens de ti
Tenho p’ra mim q’é presente
Só o dia em que te vi
Desde lá c’ando perdido
Sem luz com’ encarcerado
Um vaga-lume iludido
P’la clara manhã voando
Pela noite escura e fria
Ando eu como possesso
Sem motivo d’alegria
Sendo esta dor o compasso
De uma procissão perdida
De andor que não tem santo
Tenha na alma uma ferida
Do tamanho do encanto
Daquela em ‘que me acredito
Piamente e empenhado
Só nela penso e medito
Sou peixe ‘em rede apanhado
Falta aqui falar de esperança
Que de fé já se falou
Espero de ti um futuro
Que no presente já estou
E ‘stás tu sempre comigo
Agarrado estou em ti
És imagem eu bem sei
Mal de mim se me perdi
Que ídolos de pés de barro
Mesmo os de pedra mole
São para carregar como fardo
Não imagem a quem se ‘imole
O cordeiro deste amor
Vou apear teu altar
Faz-me tu só um favor
Proíbe-me de acreditar
Faz-me desta a derradeira
Oração à tua beira
Manda-me lá p’ra bem longe
- Ai do dia em que te vi
Visitação
Relâmpago
Cortaste-me os olhos em luz resplandecente
Ficou trovão o meu coração
Ruído imenso
Em silêncio
Amo normalmente
Como preguiça sonolenta
Subindo lentamente a árvore
Nadando lentamente o rio
Em silêncio
Mas há dias
Diferentes
Acelerados como a luz do sol
Em que os meus olhos piscos
Se enchem de ti
Se abrem em espantos
Tempestade, Tempestade
Arrasas quotidiana os meus telhados
Terramoto nas minhas fundações
‘Só quando te vejo
Turbulenta em teus gestos que imagino
Olhar para ti sem ter por horas
Os relógios do mundo
Saber de ti todo o detalhe
Adorar-te
Fazer de ti a deusa do trovão
Mas não
Prefiro-me vagarosa preguiça
Só eu ocasionalmente cego
Pela luz de teu relâmpago
Lentamente ofuscado
Por teu brilho solar
Por teu imenso ruído
Surdo à esperança
De te ter um dia
Domesticada pelas cercas de mim
Abraçada, tu a Indómita
Por estes braços fracos
Folclore
Sou d’ essência dividido
Minha cara tem dois lados
Passo por mim fronte a ‘espelhos
Minha fronte sem sentido
Em minha cara deserta
Só ‘luz em meus olhos vejo
São diferentes um do outro
Um é ânsia outro desejo
Minhas mãos não estão de acordo
Cada uma tem seu lado
Submetidas nas tarefas
Ao meu coração gelado
Hoje quero ir para lá
Amanhã vou estar aqui
Nunca sei haver destino
Já só sei que te perdi
Que o ‘meu rumo eras tu
Só tu a ‘minha união
Sou como irmão desavindo
Siamês sem opção
Tarda o dia em que te esqueça
Vai chegar tal não duvido
Vou vivendo separado
Esperando enfim olvido
Tarda o dia em que te esqueça
Vai chegar sem opção
Vou vivendo dividido
Gelado de coração
Amanhã meu nome é esperança
Hei-de ver o novo dia
Em que unido enfim renasça
Em que me torne alegria
Adios Muchacha
Tenho hora d’ir embora
P’ra breve está a partida
Se cá ficas não m’importa
Vou correr outro caminho
Versejar outro horizonte
Saudades só do perdido
Adeus digo à luz velada
Em teus olhos pressentida
Guarda-os em boa guarda
Vou-me embora
Velha brisa
Sopra agora sem morada
Vou-me embora
Não me esperes
Já não sei olhar p’ra trás
Vou seguir ledo e ligeiro
Vai-me ‘levar a Nortada
Toma lá este sorriso
Como um adeus derradeiro
Fica porto qu’eu vou barco
Por uma estrada sem marco
Fica aqui à Monumento
Estátua partida de mim
Que eu cá estou já donde vim
Pela estrada caminhando
De assovio no lábio
Trazendo recordação
Daquilo que nunca fiz
Dos teus olhos mui serenos
Dos entardeceres amenos
Que te julgava presente
Que te sonhava comigo
Afinal ‘estavas ausente
E meu coração partido
Fez as malas e fugiu
Trazendo recordação
De ti que nunca te viu
Adeus
Moradores na mesma casa os corações desavindos
Voam pela mesma asa como pássaros perdidos
Vem já lá a Primavera de cores novas vai vestindo
O cadáver deste Inverno que fenece devagar
Frio, muito frio guardo ainda em minhas mãos
E os olhos, esses, aquecem demasiadamente lentos
Vi hoje a borboleta primeira, ontem flores na japoneira
Amanhã quem sabe novos rebentos acordem, ternos
Só tu não mudas, amor, só tu não brotas
Verde de esperanças novas como água de fontes
E me imundas como rio novo, como riso novo
Como vinho em taça cristalina e breve brinde
Eu vou deixar vir a mim a Primavera, amor
Fica-te lá tu pelo teu Inverno defunto
Que eu quero amanhãs mais quentes, sois mais brilhantes
Que eu quero a relva, também verde, a crescer sob meus pés
Sonhei, tu sabes, em nós dois em nó atados
Sabes, morreu-me o sonho com a flor da japoneira
Companheiro perene deste Inverno já cadáver
Vou vela-los vagarosamente com círios brandos
Talvez a luz mais borboletas encandeie
Talvez tu franqueies a passo tímido o limiar da estação
Estarei aqui a receber-te como a irmã passageira
Descida do trem da esperança ao cais futuro
Não esperes é mais de mim que do Inverno que deixares
Que lá morto estás meu sonho
Ficaste-te pelo frio demasiado tempo
Agora já só me aqueço ao sol, às novas cores
Adeus te direi à chegada deste entroncamento
Que mais não têm que duas aves desavindas
Uma buscando o Sul mais brando, outra fugindo o Norte agreste
Voando ainda assim as diferentes direcções
Desencontrei-me de ti por minha culpa
Não fui quem queria ser por falha minha
Adeus então nesta chegada que o atraso
Não foi teu, não foi meu, foi por acaso
( No D.N. de hoje, um CD de Mozart, o Quinteto que inspirou o primeiro destes 12 poemas ( sobretudo o Larghetto ); Feitos há um ano, entre Janeiro e Fevereiro, eram fruto de uma paixão assolapada, que felizmente soçobrou sem consequências nem mágoas; são uma experiência algo falhada, mas que dedico a S. e a Mozart, pedindo desculpa por qualquer coisinha )
Moradores na mesma casa os corações desavindos
Voam pela mesma asa como pássaros perdidos
Vem já lá a Primavera de cores novas vai vestindo
O cadáver deste Inverno que fenece devagar
Frio, muito frio guardo ainda em minhas mãos
E os olhos, esses, aquecem demasiadamente lentos
Vi hoje a borboleta primeira, ontem flores na japoneira
Amanhã quem sabe novos rebentos acordem, ternos
Só tu não mudas, amor, só tu não brotas
Verde de esperanças novas como água de fontes
E me imundas como rio novo, como riso novo
Como vinho em taça cristalina e breve brinde
Eu vou deixar vir a mim a Primavera, amor
Fica-te lá tu pelo teu Inverno defunto
Que eu quero amanhãs mais quentes, sois mais brilhantes
Que eu quero a relva, também verde, a crescer sob meus pés
Sonhei, tu sabes, em nós dois em nó atados
Sabes, morreu-me o sonho com a flor da japoneira
Companheiro perene deste Inverno já cadáver
Vou vela-los vagarosamente com círios brandos
Talvez a luz mais borboletas encandeie
Talvez tu franqueies a passo tímido o limiar da estação
Estarei aqui a receber-te como a irmã passageira
Descida do trem da esperança ao cais futuro
Não esperes é mais de mim que do Inverno que deixares
Que lá morto estás meu sonho
Ficaste-te pelo frio demasiado tempo
Agora já só me aqueço ao sol, às novas cores
Adeus te direi à chegada deste entroncamento
Que mais não têm que duas aves desavindas
Uma buscando o Sul mais brando, outra fugindo o Norte agreste
Voando ainda assim as diferentes direcções
Desencontrei-me de ti por minha culpa
Não fui quem queria ser por falha minha
Adeus então nesta chegada que o atraso
Não foi teu, não foi meu, foi por acaso
( No D.N. de hoje, um CD de Mozart, o Quinteto que inspirou o primeiro destes 12 poemas ( sobretudo o Larghetto ); Feitos há um ano, entre Janeiro e Fevereiro, eram fruto de uma paixão assolapada, que felizmente soçobrou sem consequências nem mágoas; são uma experiência algo falhada, mas que dedico a S. e a Mozart, pedindo desculpa por qualquer coisinha )
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Lamento
Mais Tempo foi concebido como estância de repouso para versos e prosas vácuas. É assim. Não acredito na perenidade das letras, nem das minhas, nem das de ninguém. E neste espaço, pelo menos o meu, a página da frente, actualidades políticas tem a raridade de hóstias depois da missa. Já não há, já foram distribuídas, amanhã às oito.
A frase acima, se publicada neste país há 200 anitos, valer-me-ia um processo inquisitorial.
Ora, apesar de não acreditar na perenidade das letras, acredito na dos espíritos. E o que se passa neste momento com o relacionamento entre Europa e o que se pode chamar de Muçulmanos ( que ao contrário dos Europeus apenas se podem conectar pela religião que professam, e mesmo assim com uma disparidade de cultos e usos muito semelhante à dos cristãos ) aborrece-me um pouco. E por estes motivos:
A Liberdade;
A Igualdade;
A Fraternidade.
Elaborando, é certo que a minha Liberdade cessa quando começa a alheia; na Europa, há muitos milhares de anos convencionou-se que essas fronteiras estariam plasmadas na Lei; e, com altos e baixos, chegou-se aos dias de hoje com um corpo legislativo absolutamente compreensivo sobre Liberdade e Abuso. Quem tem Queixas, tem Tribunais. Não vai para a rua incendiar propriedades, pessoas e ideias. Agora que tanto se fala de Munique, falar-se-ia melhor das piras de livros Nazis a iluminar as noites Bávaras.
A Igualdade, como o próprio nome indica, é bipolar e neutra. Maomé coroado de bomba ofende? A Bandeira de um país como a Dinamarca, promontório de tudo o que de bom a Europa possuí e oferece, a arder nas mãos de javardos, ofende-me. E tem de ofender todos os Europeus, incluindo o Professor Doutor Freitas do Amaral. Se não, esqueceu a Igualdade; e não, não se começam notas daquelas com "Portugal"; começam-se com "O Governo", "O Ministério"; não com o nome da minha Pátria. O Senhor Ministro ofendeu-me.
A Fraternidade. Quer se queira quer não, Portugal é um País Europeu. Países Europeus foram atacados no seu próprio Território ( sim, Senhor Ministro, embaixadas são Províncias, apesar de da sua nota tal não se extrair ); atendendo ao lapso temporal que eu referi acima, eram Actos de Guerra ( e suja ); Senhor Ministro, esqueceu-se da indignação que sentiu quando a Embaixada Americana de Teerão foi invadida, saqueada e os seu Funcionários feitos reféns ? Eu não; nem da minha, nem da sua.
Resumindo: A Imprensa é Livre; O disparate, pelo menos no M.N.E., também; e se alguém, ainda que remotamente acha que eu lhe mostrei a sola do sapato ( e não digo babucha para não considerarem o comentário rácico ) podem ter a certeza absoluta que o fiz. Eu sou livre na sombra da minha Bandeira. Mesmo na memória ardida dela. O Senhor Ministro não. Lamento.
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Estarreja
A cegonha eléctrica
Coroando o poste
De alta tensão
Paradoxo alado
Posto num prato
No topo de um poste
A imagem plácida
No voo
( já viste uma cegonha voar?)
Plana em cruz
quase tanto de asa como extensa
Nunca nada tensa
E o ninho
Construído sobre cabos
Que alimentam sei eu lá quem
Mas que alimentam
Fazem da cegonha
Biónica
E já não peregrina
Já não há Africa
Perdeu o Sul
Metáfora do Império
A calma cegonha
No topo do poste
De alta tensão
Que já não há Sul
No nosso destino
Cegonha eléctrica
Que perdemos África
E ainda bem
Que morrem Impérios
E a gente assenta
Pássaro que se cria
Na ilusão do aço
No zumbido constante
Da corrente alterna
Terna
Para filhos nascidos sedentários
Sem horários
Para partir
Cegonha
Trocada a chaminé de tijolo de barro
por metal rendilhado
( Lembras a tua primeira cegonha?
A minha foi na chaminé de uma fábrica de tijolos )
Arranca o comboio eléctrico
Nómada
E o gosto da cobiça
Do destino alheio
Enche-me a boca
De permanência
Eu também eléctrico
Parto solidário
Com penas
De pássaro
Ainda resta Sul
Agarrado em mim
Coroando o poste
De alta tensão
Paradoxo alado
Posto num prato
No topo de um poste
A imagem plácida
No voo
( já viste uma cegonha voar?)
Plana em cruz
quase tanto de asa como extensa
Nunca nada tensa
E o ninho
Construído sobre cabos
Que alimentam sei eu lá quem
Mas que alimentam
Fazem da cegonha
Biónica
E já não peregrina
Já não há Africa
Perdeu o Sul
Metáfora do Império
A calma cegonha
No topo do poste
De alta tensão
Que já não há Sul
No nosso destino
Cegonha eléctrica
Que perdemos África
E ainda bem
Que morrem Impérios
E a gente assenta
Pássaro que se cria
Na ilusão do aço
No zumbido constante
Da corrente alterna
Terna
Para filhos nascidos sedentários
Sem horários
Para partir
Cegonha
Trocada a chaminé de tijolo de barro
por metal rendilhado
( Lembras a tua primeira cegonha?
A minha foi na chaminé de uma fábrica de tijolos )
Arranca o comboio eléctrico
Nómada
E o gosto da cobiça
Do destino alheio
Enche-me a boca
De permanência
Eu também eléctrico
Parto solidário
Com penas
De pássaro
Ainda resta Sul
Agarrado em mim
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Ao sol
A minha Primavera entra
Com passinhos que largam lã
O sol já brilha mais forte
Almoço sob ele
Sentado nas escadas do quintal
O frio já é quase cómico
No esforço titânico de me agarrar ao Inverno
Já nem o sinto
É o sol que me anuncia a Primavera
Com raios paralelos de gozo
Adeus, estação dos dias curtos
Adeus, curta estação da minha vida
E quando me levanto
A cabeça leve do peso da luz
Parece envolvida em ternura
Uma espécie de benção
Solar
Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
E olhando o limoeiro que meti à terra
Não sei há quantos anos
E que neste ano vai dar limões pela primeira vez
Sei que dentro em pouco
Vou beber limonada destilada de mim
Ao sol
Com passinhos que largam lã
O sol já brilha mais forte
Almoço sob ele
Sentado nas escadas do quintal
O frio já é quase cómico
No esforço titânico de me agarrar ao Inverno
Já nem o sinto
É o sol que me anuncia a Primavera
Com raios paralelos de gozo
Adeus, estação dos dias curtos
Adeus, curta estação da minha vida
E quando me levanto
A cabeça leve do peso da luz
Parece envolvida em ternura
Uma espécie de benção
Solar
Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
E olhando o limoeiro que meti à terra
Não sei há quantos anos
E que neste ano vai dar limões pela primeira vez
Sei que dentro em pouco
Vou beber limonada destilada de mim
Ao sol