Anarquia
Transcrevo o fim do dia pela necessidade palpável de mexer os dedos, tecla após tecla num sistema infantil. Criança juntando cubos. Mais uma vez invejo a escrita à mão, o caracter estilístico, a poesia do desenho da letra. Mas aqui o apagar não exige esforço, nem deixa mácula no brilho do texto. Mas aqui o bit e o bite casam-se em ficheiros, alfabetáveis, ordenados e fáceis.
A alma do papel almaço, o esboço no esquisso, a precisão da quadrícula, a rectidão da linha. Sebentas, cadernos, a folha solta que se solta e perde, e se acha dez anos depois entre recibos da luz. Agora tenho os versos ordenados como tropa em parada, as prosas alinhadas como urbanização pensada. Falta-me a anarquia do papel presa aos redis do punho.