Amarelo
Acho que é dever do homem tornar o seu gesto num acto cénico. Somos paisagem; temos obrigação de cuidar de nós. A intervenção humana no horizonte passa, necessariamente, pela pessoa enquanto actor e vector e público expectante. Quando aceno pela conta, atrasado para a carreira, olhando o mar que corre em carneirinhos furiosos, de Norte para Sul, como um Tejo de cheia sem os privilégios de olhar Lisboa, vejo de perfil no azul o meu perfil no vidro.
A Nortada gélida destas 4 horas atlânticas. O mar nas minhas costas ainda me ruge, um adeus de ameaça, de despeito, de não vás. Eu vou.
Em Lisboa o sol amarelece mais tarde. As sombras menos densas. Mas faz barulho em todo lado, e os meus ouvidos rezam um breve intervalo.
No cinco corro as grades do Botânico, quando chega ao portão vejo os Ginkos de ouro a dourar o Brotero, um sol coado de amarelos cheiinhos de Outono.