domingo, julho 22, 2007

De Lendas e Poços

Não me lembro do furor
Que me transtornava os dias
Não me lembro dos dias

Há poços na minha lenda

Não me lembro do brilho
Dos teus olhos ai no escuro
Não me lembro de ti

Há poços na minha lenda

Lembro-me que era outro
E mudei pelo caminho
Não me lembro das maneiras

Há poços na minha lenda
Há poços na minha lenda

domingo, julho 15, 2007

Sentinela

O sol tempera a pele de tonalidades róseas
A alma de branco

Modula-a o vento
Em quentes e frios
Na oscilação suave
No movimento brusco da Nortada

Alvo imóvel do capricho
Desta meia tarde
Aguardo o ir
Sentinela da viagem

quarta-feira, julho 11, 2007

Real

Submerso em vento
Na cidade estranha
Dentro da luz branca do mar que não vejo
Estranho a estranha pausa
Entre Leis e Normas

Cabe em mim o vazio dos dias
E não devia
Devia ser nulo o vazio dos dias

Num Tribunal que se quer Supremo
Que mata o recurso e impõe a pena
Arrasto-me nos sucessivos prazos
Em consecutivos mais

Quero-me preso à pausa
Quero a definitiva sentença
A última instância
O real do nada

quinta-feira, julho 05, 2007

Caminhando

Rente à pele um vento agora manso
Mais acima um sol pouco clemente
Ando plácido e esqueço o tenso

Correr do viver diariamente

Nadar na vida como em água fria
Boiar ao sol como lenho ou alga
Despido de tudo o que antes havia
Ser o nada misturado à vaga

Ter de mim a transparência a limpidez
Não sentir nada entre o eu e o mundo
Não ter mais de esperar em vez

De ser e ser pouco profundo
Sim, o mundo é de quem fez
Sentir de si e dar amando

Sim o mundo é de quem faz
A sua vida como caminhando

terça-feira, julho 03, 2007

Até Sem Título

Sendo suposto o texto ser dizer, e dizer consequente, hoje não quero texto. Quero a disformidade de apenas escrever. Acumular a palavra numa harmonia formal, abrir as portas e dentro nada, nada senão a luz filtrada de fora. Fazer o texto quadrado e branco como pedra da calçada que partida fica apenas mais branca e continua muda dos pés que a calcaram, da chuva e do sol que a cobriram. Palavras meio calcadas meio calçadas, meio sol chuva e brancas de meias luas suspensas naquelas noites de veludo.

Tear teia trama em vez de princípio meio e fim parede alicerce telhado pátio cerca rua, qualquer coisa assim de amplo por dentro, e não muito preocupado, não muito relacionado, um ovo suspenso em brisas vocabulares. Fonemas sinfónicos, mas de uma orquestra pequena e fraca, de província remota e pouca nota.

Assim um anti-texto contendo apenas as palavras e não o sentido delas, só porque cabem na mão de quem escreve, só porque as teclas se rearranjam pelo som escorrido delas. Apenas três parágrafos como é costume só que de costume dizem e hoje não. Como o pensar antes do sono que não vamos lembrar nem dentro nem depois dele, como uma…