quarta-feira, agosto 29, 2007

Dia

Como o dia separado
Dobradas manhãs em desembocadas tardes
Como a noite dividida
Vejo a minha cara ao espelho
A sombra luz de mim

Este meu lado esquerdo
Este meu lado direito
No bailado ambidextro do meu gesto
Seguem o rumo como amanhãs remados
De costas ao futuro

Pendula o movimento
Da batidela cardíaca
Late-se a voz em murmurares escassos
E sigo pela lógica ordeira do número
Mais um dia, e mais um dia

segunda-feira, agosto 27, 2007

Botânico

Morto o jardineiro
Que faz o jardim
Morto o jardineiro
Que faz o jardim

Muda verde em luto
Muda verde em luto

Renasce na rosa pelas madrugadas
Procura a mão de um novo alguém
Renasce na rosa pelas madrugadas
Procura a mão de um novo alguém

Luta pelo verde
Luta pelo verde

Luta pelo verde
Luta pelo verde

quarta-feira, agosto 22, 2007

Modo

O tecto de nuvem
O vento que corta
O amor ausente
Nada mais importa

Sou e sou suficiente
Minha mão ampla como o mundo
O que vier virá
E virá sempre diferente

Adeus ó casa velha
Muralha de meu sonho
Venha já o que vier
Estou em modo conhecer

sábado, agosto 18, 2007

Da República

O deslizar semi-circular do sol vai sumindo-me a sombra em breve terei os pés guilhotinados pela lâmina de luz. Tropical 3 da tarde e sinto-me bem. A Praça com os seus círculos concêntricos dentro do círculo de plátanos. As iguais torres do portão da Sereia desigualmente iluminadas uma por uma chapa de luz outra por retalhos de folha e fogo.

Estou sentado na linha que separa os dois cafés; Paralelo 38 para os da casa. Entre mim e a rua cadeiras e mesas vermelhas, e uma tília, que volta e meia deixa cair uma semente helicóptero com um ruído seco. De vestido também vermelho uma negra alta atravessa na diagonal a Praça, cheia de curvas oscilantes, oscilando na mão um papel branco, como quem faz mais um futuro. O vento leva-me ligeiramente o torpor. Agosto e Praça. Sinto-me bem.