sexta-feira, janeiro 25, 2008

O Centro

Apesar dos pesares
E da muralha fina
Apesar de pareceres
E oiro de mina

Continuo como declive
Debaixo de céu neutro
Tendo como sempre tive
A sensação de me faltar o centro

Apesar dos pesares
Disperso-me tranquilo
E sigo pelos lugares
Entre isto e aquilo

Apesar dos pareceres
Ando de valentia mansa
De Inverno e de tremores
Entre cansa e não cansa

terça-feira, janeiro 15, 2008

A Nicotina

A nicotina. Mãe de mi ansiedad. Nome do meu vício, um dos. Uma disciplina tadesca apodera-se de mim, recusando o cigarro, em nome de uma ordem, ou da Ordem. Rauchen verboten, se ainda me lembro. Há dias que o meu prussianismo. Outros não. Hoje sim. Ai águas do meu Mondego.

Chove insuportavelmente, venta moderadamente, a lassidão.

Os meus tempos cada vez mais lacónicos, a ausência do verso, o arrepio Inverno. A tua ausência. A madressilva está mais cedo este ano. A Primavera apanhou o avião mais cedo. Já há andorinhas em Lisboa? Joaninhas? A voa avoa.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Janeiro

Escrever longo. O apetite de escrever longo. O longo é estranho ao Homem. Somos cronologicamente pequenos. Como escrever o longo? Porquê escrever o longo? A Glória. Só pela Glória. Que será felizmente curta. Escrever então curto? À medida do talento.

Correr o anagrama. Seguir a hélice tripla. Seguir na exacta esperança. Cumpri-nos. Não como se fosse necessário, mas porque é evidente. A tremenda tatuagem da vida. Implícita e simples. Transcutânea, no sentido de ver a veia sob a pele e saber sangue e movimento.

A trepidação ferroviária, sobre carris, alinhada a ferro. De costas para o sentido da marcha, a paisagem rebobinante. O quotidiano a recuperar-me sobre os carris paralelos. O ano a despontar com o pesponto dos de antes. E o frio de Janeiro com o seu cheiro a esperanças.