quarta-feira, setembro 24, 2008

Inácio

A deprimente coisa de estar só. Uma espécie de estado sem estado, liquido gasoso mas não sólido apesar de palpável. Por vezes gélido. A interrupção nóciva. Um tropeção na imaginada ladeira. Mesmo na planicie em que os anos transformam as vidas. Não sem horizontes, mas horizontes mais brandos. Ou algo como isso. Iço-me ao patamar seguinte, sem esforço, com a naturalidade da ascendência. Vou porque é ir. Condenados pela cronologia, vamos. Do nosso zero ao nosso omega. Descendo de alfa. Centauro. Na condição errática de bisnetos de cometas, expandimos. Crescemos. Somos mais e o mais.

Trazia no bolso um pedaço de ontem, com o orgulho medalhado da experiência. Eu sei dizia o olho gordo, salivando. Um verdadeiro tolinho. Entrou na carreira, pegou no braço de um céguinho que trazia, numa caixa grande, um acordeão. A chuva de uma hora já aqui à espera molha os cigarros. Há neste domingo uma obediência concreta à discreta desordem do real. Tudo frio e embaciado, como se a verdadeira cara da vida fosse fosca.