Trepadeira
Debaixo do peso solar como moeda cunhada repetidamente batido por um mar de vaga inclemente à costa flagelado de onda inconstante e sal sou o corpo mas já não sinto nem vontade de saber-me. A palavra que fabrico não é balsa de fugir à ilha de mim, nem arte vã que deixe depois de ir, é mera coisa que faço como faço outras coisas como olhar o céu reparar na nuvem procurar a sombra respirar ar porque sim ainda resta fôlego nos pulmões velhos, as mãos ainda agarram já não sabem é dirigir-me noutros caminhos que não circulares.
Tomo o rumo do passado sempre que lembro a via do futuro sempre que aspiro mas já não lembro nem aspiro; Tenho fome sede e estou cansado mas não quero nada para a fome a sede e o cansaço; quero cessar como cessa o dia apenas sem poente dramático, sem cores no céu um sol engolido por um mar azul cinzento negro e fim. Mas na minha mão que parou o gesto não há vontade sequer de cortinas, e um receio que acabar aqui seja outro começo é mais forte que desistir. Só isso me prende, acho; o medo de mais.
Valido-me a mim próprio como quem carimba um selo, como quem corta uma fita, como quem geme depois de um orgasmo. Sou que remédio um remédio paciente para um paciente crónico e a crónica não me saí, nem a desejo. Desejo? Vontade a mais de ser mais que um risco numa folha que já nem faço, um ramo a mais na trepadeira que eu mesmo podo. São trombetas vermelhas às centenas as flores da minha trepadeira, mas não soam. Fazem sombra, e caem sem ruído. Há dias que queria ser elas.
Valido-me a mim próprio como quem carimba um selo, como quem corta uma fita, como quem geme depois de um orgasmo. Sou que remédio um remédio paciente para um paciente crónico e a crónica não me saí, nem a desejo. Desejo? Vontade a mais de ser mais que um risco numa folha que já nem faço, um ramo a mais na trepadeira que eu mesmo podo. São trombetas vermelhas às centenas as flores da minha trepadeira, mas não soam. Fazem sombra, e caem sem ruído. Há dias que queria ser elas.
4 Comments:
um bom dia, paulo
post auto biográfico?
beijinho
alice
há dias assim...em que querer é tudo. querer o nada....
absoluto delírio....
bom fim de semana Paulo....poeta assim sem ruído dissonante.
abraço.
Dolorosamente bonito e expressivo este texto.
Beijo
andando por aí?
trepando nos dias?
deixo só um abraço. com ligação ao tempo.
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