quinta-feira, novembro 10, 2005

Patamar de Sábado

E é na quinta que começa a descer a semana, como carrinho de rolamentos desembestado ladeira abaixo. E chegado, lá abaixo, nunca se sabe como irá travar o tal carrinho. Por vezes vêm carros a subir, outras parte-se a corda da direcção e vai ele de carrinho de encontro a um poste, um portão, um muro. São assim as quintas.
As minhas semanas são um bolo crono-geográfico, limitadas no tempo e no espaço por idas, vindas, pausas, picos e vales. A juntar a isso a minha doença, que é suposto ser bífida como a língua das cobras e lagartos, o que me leva ás vezes a dizer cobras e lagartos de tudo e de nada.
Venho para cima ao domingo, vou-me abaixo na segunda, terça é segundo dia sem ti, quarta nada, e noves fora quinta, sexta é dia de descer a sentir o coração subir, sábado espécie de oásis e domingo dia de voltar a sentir-me camelo.
Na circular semana que acreditamos redonda, com princípio, meio e fim, nota-se porém um sentido comprido rumo ao futuro, e os dias não são velas de moinho, nem rodas de nora, mas degraus de escada; e ninguém que eu tenha ouvido, lido ou pressentido sabe se a escada desce ou sobe.
Na Feira do Espirito Santo havia um carrossel que girava, subia e descia tudo ao mesmo tempo. Depois acabava e começava outra vez. Só que aí podíamos trocar do cavalo para a zebra, da zebra para a girafa, e até havia uma espécie de chávenas que rodavam dentro daquela roda toda. Entontecia. Mas até aí a metáfora é imperfeita porque o carrossel tinha dono, e desmontava-se, e para o ano iria haver mais.
Algodão doce, pipocas, matrequilhos e barracas de tiro. Eu continuo a acreditar no Espirito Santo, nas coisas boas que traz. Eu continuo a acreditar que a quinta é a descer. E deixem-me acreditar que a escada sobe.

2 Comments:

Blogger maria said...

SOBE

e hoje estás doce e sabes-me bem, ainda que aí longe

falares-me de pipocas a qualquer hora da manhã, mesmo se a manhã ainda era a noite do centro geográfico das semanas (que as minhas são como as tuas - mas eu creio que o carrinho nunca se estampa em muro algum!) sabe bem e apetece mais, sentir pipocas a estalar, só de ler, só de (pre)sentir a sexta a chegar!

quinta-feira, novembro 10, 2005  
Blogger Cadelinha Lésse said...

Pois, pois, começas a pensar no fim-de-semana à quinta e eu é que sou preguiçosa... não é justo!

quinta-feira, novembro 10, 2005  

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