sexta-feira, março 03, 2006

Maña di Carnival

Sobe a onda desce a onda
Na praia a esta hora ainda cinza
Rumoreja o mar a canção necessariamente dolente do amanhecer

Vim aqui romaria hábito
Ouvir mais que ver o oceano
As ondas que vão têm o melhor som
As que vem também

O cinzento do mar picado levemente pelo vento
Ponteado nas encostas de vaga de um azul colorido de sol recém-nado
Enchem-me de uma ternura existencial
Que atribuo à falta de sono
A cinco quilómetros de bicicleta

Subo um paredão e escorrega-me um pé depois outro
Caio de cara na rocha
Já tive amores menos violentos
A testa sangra levemente a não querer contrariar a faina
De enregelados pescadores na maré vaza

À minha frente o regueirão da minha infância
Cria a ilha desejada pré-amores
Olho o sol a surgir após a mata depois da recordação da duna
E ponho nos ouvidos qualquer coisa de Parker
Latejante como a minha testa este som que anula o mar

Desço com cuidados cirúrgicos a pedra que não foi meiga comigo
A cara rasgada a lembrar ascensões recentes quedas inevitáveis
E vou na bicicleta na lentidão deste deserto Furadouro
Pedalando em contra mão tentando que anule o mar desta vez
O feio urbano de homens cegos à sua transcendência

Canção do mar que me embalou e me cuidou
Razão da minha vida aqui e agora
Vibra o tímpano da emoção rara
Da ausência de motores
A retina raiada de uma lente riscada
Corta-me o ver a meio

E porque não?
Não nunca nos é dado ver tudo nunca tudo
Porquê insistir
E do mar ouço a resposta solene de uma onda mais cava
Porque existes filho porque existes
E volto-lhe as costas a cara contra o sol o picar do sal no picar da ferida
Na testa leve de mais uma manhã

4 Comments:

Blogger isabel mendes ferreira said...

querido Paulo....és muito guloso....e tb gosto da limonada como tu....entre outras coisas....por exemplo....gosto que existas. em cada manhã. deste mundo. onde onda uma onda....~~~~~..beijo.

sexta-feira, março 03, 2006  
Blogger banalidadesdebase said...

Furadouro, mar, nada como esse mar, e conheco tantos outros mares!
Vim da praia agora e que bom ler o que escreves, as ondas cavas, o som sem motores-a praia onde vou nao tem motores ou outro som que nao seja o mar!
Agua das lotinhas do peixe que se espraia na areia, os bois ainda cansados do puxar as redes, os homens trazendo as bateiras a seco e seguro porto.
Praia do Furadoro, os meus primeiros amores, as experiencias transcendentais e ilegais, os meus primeiros escritos...
la la la

sexta-feira, março 03, 2006  
Blogger isabel mendes ferreira said...

boa noite Paulo....só porque sim...

sábado, março 04, 2006  
Blogger Madame Pirulitos said...

Vale sempre a pena por aqui passar...

terça-feira, março 07, 2006  

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