sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Das Bicicletas

Nos fins de tarde
Vínhamos da praia
No toyota amarelo do meu avô

Eram amarelos os dias de praia
Sol amarelo
Areia amarela
Bananas
Uvas
Ameixas
Houve Verões de calções amarelos
Eu até era loiro

Passávamos no Ramada
E revoadas de ciclistas em bicicletas negros
Pareciam bando de pássaros
Eu gostava dessa cambiante de cor
Da ordeira malta ciclistica

Fim de praia
Recta interminável
Quase em Ovar
Os ciclistas negros do Ramada
Alguns com molas de roupa
Prendendo as calças
Olha, olha, aquele leva molas!

Não nos tocava
A ironia operária
De coincidir o fim do esforço
Com o esforço do pedal
Com a nossa volta quotidiana do amarelo

Fábricas era normal
Se até o meu avô tinha uma fábrica
Fazia arroz
E grão de arroz e grão de areia e molas
Princípios da mecânica
Tudo rolado nos idílicos Verões
Rolando bicicletas porque não
Bicicletas negras porque não

Hoje depois do emprego feito
Pego na minha bicicleta vermelha
Na mesma estrada vou ver o mar
Fumar um cigarro e voltar
Raramente vejo operários pedaleiros

E o toyota explodiu-me nas mãos em Leiria

4 Comments:

Blogger lo said...

ola paulo
adoro entrar num blog
ver falarem delas eu nao gosto de falar de mim mas adoro ter amigos
desejo te um bom fim de semana
jokinhas doçes
da
ANJO :-)

sexta-feira, fevereiro 24, 2006  
Blogger Mãe said...

O toyota explodiu. Espero que o amarelo tenha ficado.

sábado, fevereiro 25, 2006  
Blogger isabel mendes ferreira said...

a mim explode a saudade de explodir. assim.....juvenil quase.


cansada. muito.
um bjo.

domingo, fevereiro 26, 2006  
Blogger paulo said...

Ernest: Uma explosão de amarelo, numa noite escura como só escuras podem ser as noites; amarelo sempre.

Alice: Lágrima é àgua salgada, àgua simples colorida a sentimento; eu também não chorei o meu avô ( ele teria dito, sincero, um homem não chora ); há perdas assim, tão cheias de tudo que não deixam espaço nem sequer para o choro; abraço.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006  

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