3.06
Passei três minutos com a realidade numa bandeja de Tango; deu-me para ele, esta semana. Piazzolla. Acho que ele fez um mal grande ao mundo, quando não retirou um z e um l ao nome; Piazola é muito mais fácil de escrever, e soa ao mesmo; pelo menos a este duro ouvido Lusitano, habituado à aspereza monocórdica da nossa língua materna; e paterna, já agora. Tive a felicidade linguística de apanhar no berço uma grande fatia do dizer português; o meu pai é do Sul, a minha mão quase do Norte, com pais nascidos na volta do século, quando se falava ainda com ph. A minha terra é uma Babel de sotaques, onde se ouve tudo o que é dialecto luso, e alguns estrangeiros. Um tipo habitua-se ao som soar diferente, à palavra desviante, ao ritmo inesperado da fala, da mão que a acompanha, do olhar mais ou menos velado por outras inclinações solares, morais, cívicas, culturais. 3 minutos com la realidad dura 3.06 minutos. Será de propósito, ou alguém falhou en El Sexteto Nuevo Tango, naquela noite no Club Italiano de Buenos Aires? Abril 1989, a realidade deveria ser a mesma, e na realidade, os minutos, mesmo 3, mesmo de uma precisão técnica total, às vezes descambam. A realidade destes 3 minutos é que lhe sobram 6 segundos. A realidade é que isso não tem nenhuma importância. Embora me pareça que para o Astor aquilo devia durar exactamente 3. Não 3.06. Como sombra fugadas de un cansado ballet, canta noutro cd Amelita Baltar, são estes 6 segundos; assim, fugidios, afogados, sombrios, mas reais. A pequena sombra deste tanguista solar, o peso dos dedos sobre o bandoneon mesmo antes de o tocar, a espessura do génio.
3 Comments:
tão espesso.................!
beijo Paulo.
ah.....................bem...........
:)
:)
:)
Xi..
querido paulo,
gostei de te ler
não vim durante alguns dias de propósito, ficava triste por não ver um post novo e resolvi esperar algum tempo, pelos vistos, tempo demais, mas bem compensado
um grande beijinho para ti,
alice
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