Outras Marés
Um pinhal rarefeito recebe-me a chegada só pinheiros magrinhos sobre o solo de areia nua em alternância xadrez, mas todos das mesmas cores. Areia suja áspera casca castanha agulhas agudas de verde tinto. Saca ao ombro morder o cigarro caminhar. Antes do jardim, uma lua crescente de brilho incandescente; em pendant, cumulus rosa e branco, em rectângulo de céu um rectângulo de sonho. Do outro lado assam-se sardinhas e joga-se às cartas, e eu tenho fome e saudade de um tecto e de uma porta fechada e de dizer enfim! a este fim-de-semana.
A vida é baile de encontros e desencontros e noto a tendência de acontecerem todos ao mesmo tempo. E do sozinho que nem cão ao acompanhado que nem pulga vão às vezes uns metros, uns minutos, um rabo de olho ou um perfume esquecido que nos vira a cabeça mesmo quando a cabeça nos diz não vires. E depois o certo pasmo de saber que entre alguns de nós o tempo ficou congelado, e a virgula onde a deixamos, e o mas não o desbotou a cascata das horas, o precipício dos anos. As pessoas são iguais debaixo das suas sucessivas cascas, parece-me.
Estarei eu igual? Sim, estou. Não mudei nada. Só mais velho, mais altivo, mais magro. De resto o mesmo. Só, no tecido intimo, se acrescentam matizes que não advinha o tacto, que só dúvida o olho, que não revela o primeiro discurso. Iguais, perante o Deus justo dos desencontros, que nos oferece a rara prenda de nos mostrar, noutra concha, a pérola esquecida das marés de antanho. De novas marés? De outras marés.
4 Comments:
a mudança das marés dentro do mesmíssimo mar.
encontro de narrativas de um dentro. que é tÃO TEU .
OBRIGADA pAULO.
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BELO quando me encontro....assim alinhada pelo teu canto...
xi.
e voltei.
para descansar. no pinhal.
__________________beijo.
Como estás?
XI
maré vazia quando assim te ausentas... um grande beijinho.
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