Pendulo
A chuva acabou, também o frio. Um sol pálido ainda, um céu azul esbranquiçado, que me faz ver o mar já ao fundo da Avenida. Ver em mim, a recta tem mais de três quilómetros, mas eu sei que está lá, e que as cinco e meia vou estar em frente dele, cheirá-lo, ouvi-lo, sentir a oscilação que é a minha, o ritmo monótono da maré e o seu verde quase esmeralda destes dias. Uma nostalgia toma conta de mim, como um abraço maternal, como uma carícia morna. A recordação de outros dias e de outros mares faz-me perceber, numa lentidão que é em mim quase ritual, que o devir é, e que nada que eu possa fazer vai determinar a forma do meu futuro. E isso liberta-me para usufruir o presente. Não quero nada da vida, só vivê-la. E isso, o céu esbranquiçado, a promessa da manhã, a certeza do som do mar, forra-me, com a lentidão do costume, o coração de uma forma rara de felicidade, uma felicidade triste, mas segura, de mim, do mundo, e dos outros. Sereno, agora sereno, vou esperar as cinco e meia, o mar, e as ondas esmeralda. Esperar na lentidão do coração cheio, pleno, mas calmo como um relógio de pendulo, como um olhar de velho, como uma tradição esquecida.
3 Comments:
Esperar na lentidão do coração cheio, pleno, mas calmo como um relógio de pendulo, como um olhar de velho, como uma tradição esquecida.
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assim se espera o lado maior da vida.
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beijo Paulo.
Segui como que hipnotizada
o balancear deste tempo...
Serenamente!
Um beijo
nunca esquecida a tradição de aqui vir colher-te flor da primavera ;)
beijinho grande, paulo.
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