quinta-feira, julho 21, 2005

Aguardo Sereno

No vai e vem dos dias vou no sol na ausência da chuva. Ontem a noitinha a olhar o Douro a entrar no mar como amante delicado e doce, lembrei-me d'outros dias, d'outros Douros, e por uma vez não senti saudades. Velha chama, velha chaga que agora sinto sarada. Ainda dóis, doerás talvez sempre, quando sigo as linhas que te escrevi, as linhas em que te cosi em lumes brandos e fortes; nas tuas ausências, traições e prazeres, na lembrança do teu rosto em que eu pintava raros êxtases. Foste, e na minha vida deixas-te uma espécie de buraco, uma boca d'inferno onde borbulham marés mas que não há água que encha. Mas não criaste vazio. Ainda me resta aqui, no que eu gosto de chamar peito, vontade de mais. Masoquista, o coração busca, ainda, unhas que o arranhem; Ligeiramente sádico, procura, ainda, alguém a quem fazer sofrer amores. Pedi, confesso, ontem às musas do Douro, uma sereia como a do Gil, que disputariam o poeta mim e o esfomeado eu. Aguardo sereno.

3 Comments:

Blogger Cadelinha Lésse said...

Conheço esse Douro...

quinta-feira, julho 21, 2005  
Blogger maria said...

Talvez, quando me cansar de procurar, algum dia encontre. Talvez, quando deixar de perguntar, alguma resposta me seja dada.
Talvez, quando não quiser saber mais, outras luzes me cheguem. Talvez, quando não precisar de mais suspiros, novos ventos me acordem.
...
sei lá... também já tinha isto escrito há demasiado tempo. precisou de vir "dar à costa".

quinta-feira, julho 21, 2005  
Blogger paulo said...

Tu já tesn este poema completo, mas vai aqui um excerto:

Ando por vezes por dentro de olhos abertos
Ando por vezes por fora de olhos fechados
Procuro sem querer nada encontrar
Sou meu próprio foco, sou meu centro
De mim parte a busca a mim mesmo
Peão andarei mais alguns anos
E se me encontro e não me reconheço?
E se mudei assim tanto com os anos

sexta-feira, julho 22, 2005  

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