segunda-feira, setembro 18, 2006

Simetria

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

Tive como todos dias de dúvida
Tive como todos dúvidas do dia
No bilhete que guardo de ti
Não me é contada a viagem

Ida está ida a necessidade de partir
E ficar é a viagem nova
Ida está ida a estrada
E a necessidade é cerrar as portas à luz fixa

Caracol de cerceadas antenas
A minha espiral doméstica é tudo
Muda a estação eu não mudo
Mudo fico porque ninguém me provoca a língua

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

Troco estas mãos por toques novos
Que tocar de novo é nada
Deixei a vontade de ser no andar de cima
Não me apetece as escadas

Troco estes olhos pela largura do mar
O mar não troca e ri
E larga outra onda na areia branca
Não me apetece nadar

No dia de voltar percebi que não partira
E de saco ao ombro soube-me imóvel
No dia de partir adiei-me e não fui
E o ombro vazio pesava na mesma

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

No trinco da porta cerro dentes
A tentar trancá-lo a pensar parti-lo
E o pêndulo do relógio da cozinha
Não marca mais a hora passada

Fico porque sei andar por dentro da cabeça
Aprendi aqui quando ainda era
Resta-me o pensar vadio
De pensar em tudo e não produzir nada

Aprendi que o tempo
Vai dos zero aos cem como lhe convém
E se me restam mãos e olhos
Não me resta mais vontade

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

Ida está ida a desejada espera
E outra espera aguarda à porta
E eu agora no andar de cima
Vou dar corda ao relógio

Esperar a nova hora nas rodas dentadas
De costas voltadas às novas vontades
Velho relógio mais que centenário
Fecho a tua caixa sobre mim

Agarrado à parede
Doze horas em números romanos
E uma espécie de saudade de mim
Conforma-me como sina aceite

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

Não me sobra na cartola dos truques
Nem coelho nem lenço
Não me sobra nem cartola nem truques
E ilusões sempre me souberam a nada

Agarrado à parede do andar de cima
Eventualmente descerei de mim
Trocarei números romanos
Por desejos humanos

Embora os saiba os mesmos
A inutilidade de representar
A futilidade de ser
A inevitabilidade de ir

Arriscar a simetria como se reduzir a par eliminasse a dúvida
Duvidar da paridade como se eliminar o risco fosse igual
A não arriscar nada

E não arriscar nada
Sabendo a simetria como redução geométrica da dúvida
E a paridade como iluminação duma solidão igual à minha

1 Comments:

Blogger Sophie said...

Não gosto de falar na solidão porque me incomoda.
Deixa-me nostálgica... uma sensação de agressão a tudo o que sinto e a todas as cores que tenho dentro da minha vida.
Podemos não falar sobre o que nos incomoda, mas sabemos bem o que não queremos para a nossa vida.
Beijinhos.

terça-feira, setembro 19, 2006  

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