sexta-feira, setembro 01, 2006

Voltar

Entardece em vidro fosco
A nuvem do lume acinzenta tudo
Eu vou como sempre
Para sempre voltar

Respiro o ar difícil
Hálito ardido verde a cinza
A estação dos fogos
Nos lentos comboios

Sento a meia hora do transbordo
Sinto a minha hora de transtorno
Vou como sempre
Para voltar de novo

Docemente em círculo levo a vida
Decididamente não paro nem fico
Junto ao fumo o fumo do cigarro
E jogo a espera como jogo de sala

Antes havia comboios directos
Com janela cortina e bar
E por duas cervejas engolia a viagem
E em Aveiro não queimava as horas

Agora que não bebo nem posso
Penso porque vou e é em ti que penso
Como se fosses destino ou meta
Como se fosse por mim que ai estás

Coloco a beata no meio da linha
Com um piparote todo ele treino
São os quinze anos de Linha do Norte
A bitola perene destes dias de ida

Lá vem devidamente anunciado o trem
Lá vou devidamente entediado eu
Lá vou para sempre voltar
E sei que vou para poder voltar