quinta-feira, setembro 14, 2006

Thomäs

How many roads must a man walk donw before you call im a man cantava o Bob em 63, anavalhando os tímpanos com uma estrídula harmónica; e era harmónico. E era. Devagarinho fui dissolvendo a repugnância que tinha ao homem. Há umas semanas vi o documentário do Scorsese sobre os primeiros anos de carreira. Já me tinha deslumbrado com um cd duplo que era tudo o que tinha dele; comprei agora o Freewheeling. Estou lentamente a começar a amar o Homem. Se tivesse o azar de ter nascido na Judeia do século I era Profeta; agora é só um tremendo Bardo.

Andava a apanhar uvas no Sul de França, há para aí vinte anos. Seis Portugueses, uma Portuguesa, um Francês, um Polaco e um Checo. Os Portugueses eram tolos, o Francês era um bêbado, o Polaco falava e não dizia nada, o Checo não falava; pensávamos que não sabia. Sabia. Tinha era medo.

Pagavam-nos x francos e dois litros de vinho por dia. O vinho era mau, mas forte. Ao Domingo não se trabalhava, festa ao Sábado. O Checo não era imune. Pegou numa guitarra e cantou Blowin’ in the Wind. E Chorou. E falou. Tinha 18 anos, estudava no Conservatório em Praga. Integrado, normal, sem qualquer tipo de participação política. Um bom comunista. Um dia põe-se a ler uma revista sobre música. Sem pauta, apenas a letra, lá estavam as palavras. E ele não conseguia perceber como nunca tinha ouvido aquela canção. Depois fez por perceber, acabou por fugir pela Jugoslávia, mais uma irmã. Passou ainda uns anos refugiado na Alemanha, mas ainda tinha medo. De nós já não. Chamava-se Thomäs. Já não deve ter medo. Ainda deve ouvir o vento.

3 Comments:

Blogger alice said...

eu ouço o vento quando te leio

beijinhos

alice

quinta-feira, setembro 14, 2006  
Blogger Sophie said...

... raro, inerte, saudoso, rebelde, conquistador, sereno, arrebatador... fogoso o doce sentir do vento.
... e voamos nas asas do vento!

Um beijo.

sexta-feira, setembro 15, 2006  
Blogger Vanda said...

Mágico esses momentos do Thomas.

E nossos tb se tivermos alma para ouvir o vento.

Gostei de tudo quanto escreves.

Vem de dentro e faz um nó. bom.

Van

sexta-feira, setembro 15, 2006  

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