Cabriolas
Com as cabriolas carnavalescas à porta, o eu das máscaras vai ter de escolher só uma. Redutor, como festa. Mudar de cara para outra cara, e eu tenho tantas que me parecem uma prisão espiritual. Já fui de índio, de bruxa, de pierrot, já fui de ronin e de noiva; houve um ano que eu mais quinze enchemos Ovar de estátuas da liberdade, verdes e belas como a real americana. Este ano não me apetece. Vou disfarçado de incomodado.
A terra tremeu ontem, aqui foi um soluço, como se uma rajada de vento mais bruto mexesse as coisas. Pôs-me a pensar na fragilidade e na inconstância, de como a terra às vezes treme no fim dos amores, e como os amores que acabam não impedem a terra de tremer de novo. Agitações.
Vou sair pelas ruas encharcadas de cerveja e samba, vou ver se vejo uma folia que me sirva, que me trema e me agite. E vou procurar uma cara no meio das máscaras. E não vou ter, como habitualmente, nada mais que um copo vazio e uma alma cansada. Vou de incomodado; voltarei acomodado. Três dias, três anos, três séculos. Como tu demoras, tu que já devias estar aqui. Para eu saber quem és, no meio do baile, disfarça-te de desejo. Eu vou sentir-te, seguramente. Se a terra não tremer.
4 Comments:
--------------ambos--------------
e a terra treme.
beijo.
seg
uro.
descontrolar a cor no rosto
transbordar o segredo no olhar
instalar na mão o tremor
desfasar as palavras da voz
(...)
o desejo é a única verdade que não sabemos calar e esconder de nós próprios.
XI
feliz são valentim, paulo. um grande beijinho. alice.
"vou disfarçado de incomodado"....
nuncA ME LEMBRARIA DESTA, que acho
uma excelente metáfora....que te roubo...para um destes dias me disfarçar....de tudo...
"Esculpir é amar o liquem."....
e onde encontraria eu um Leitor assim...tão adentro do que pretendo dizer?
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obrigada Paulo.
Xy.
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