Dez Poemas D’Inverno ( Ou queria pôr versos, não me apeteceu escolher, pus os que havia, escolham vocês, e depois digam, ou não )
I - Ruína Romântica
A roda do amor tem aro e eixo
A pedra da calçada duas cores
A porta do quintal tem trinco e fecho
Só meu coração não tem calores
Frio e vento rodopiam na manhã
E têm abraço e propósito
A chuva ao cair tem o chão a recebê-la
E eu sigo assim sem ira e ócio
Não me adianta o eco de mim
Gritado pelas pedras velhas
Habituei o ser assim
Ao deserto de noites vazias
Ocasionalmente cheiro o ar
E o resto do incenso dos teus dias
A sombra nublosa do luar
Lê em mim como só tu lias
Mas não faz diferença
Não pesa muito
Eu ser presença
Sem haver outra
Crónica oca o verso
Um poço de desejos jamais concedidos
Busco a rima e uso
Bocados de mim que julgo perdidos
II - Havia
Do verso como prédio
Já narrei as razões
Esqueleto de aço
Coberto a paixões
Alicerce fundo
Telhados coroados
E no meio o mundo
Dos feitos passados
Escrever para lá
Adivinhar futuro
Não das minhas mãos
Só olho para trás
Fosse minha a vista
De um amanhã provável
Fosse galo em crista
De uma luta afável
Terreiro em mundo plano
Esquecer alturas
Fabricar minúcias
Vácuas duradouras
Às vezes sonho o fim da lágrima
Como o fim do rio numa bela foz
Mas sei a sal temperada a voz
E o coração instância última
E o meu é triste
Porque assim nasceu
O meu prédio é pardo
Contrastado a breu
Ai mas quando amanhece
Entre rosas e malvas
E abro janelas para nuvens calmas
Sei-me devagar para além de triste
E abro a porta à esperança fugidia
Num rompante meigo de alegria
Misto de mim e esperança minha
E acredito em mais, muito mais que havia
III - Tronco
Na curva na lomba para lá da estrada
Em que espera solene uma outra alma
Falta-me outro passo outra encarnação
Um recomeço um ir uma nova canção
O verso imbricado em lira não me diz
Nem metade das coisas que vi e fiz
Ler o futuro entre as linhas não sei
Cego entre um passado que nem passei
Tento na bruma a definitiva quadra
A palavra moldura que a vida enquadra
Mas resto vazio oco e na mudez primeva
Como um tronco seco que o rio leva
IV - Espirito
Perdi alguns dias em nuvens de haxixe
Afundei-me lento em largos copos
Aprendi que o mundo é pouco plano
E que os nossos olhos mudam com o vento
Alternar realidade e substância
Sabendo substantiva a alternância
Tomar a alteridade como norma
Saber o mundo composto de mudança
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
O riso de erva ecoava nos arcos do Aqueduto
Subíamos descíamos dávamos três palmadas na estátua do Camões
E ia-mos comer batatas fritas à Rua das Matemáticas
Sem cálculo
E penso o composto como adubo
Não tanto como bloco de armar
E penso que me passaram pelos olhos novas qualidades
E consciente e inconsciente fogem ao conceito de juízo
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
Santa Teresa d’Ávila flutuava em bolores
Santo António pregava a peixes
Uma vez na Figueira falei com ursos
E deixava-me cair onde calhava
Tenho para mim que abrir os olhos
Nos faz tanto mal como bem
E no entanto há que abri-los
Mesmo quando não convém
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
E espírito, espirito aberto
V - Paixão
Esperar por ti é dor e sossego
Porque esperar custa
Mas eu sei quem espero
Renunciar ao amar
Sempre me pareceu raro
Amar não admite estar errado
Não te amo mais
Não pertence ao momento
Nomeia o processo, o movimento
Não te amo mais
Não o diz o amante
Amar é sempre a constante
O que derruba então
O amor do peito, da cabeça, do gesto?
O medo, o hábito, o desejo, o resto?
Não sei
Amo todas as mulheres que amei
Sucedem-se no tempo numa cornucópia
Eu fico elas vão
E aparecem outras num baile de caras
E eu visto em máscara uma nova paixão
VI - Alarve
Ai as saudades que eu tenho dos desejos que tive
Dos cumpridos menos
Dos por cumprir mais
Ai as saudades do querer sem poder e sofrer por sofrer
Numa espiral de dor aguda de masoquista êxtase
Cavaleiro andante de comprida espada matador de dragões
Não pude ser
Faltava cavalo dragão não havia e a espada era uma cruzeta velha
Curta e de madeira
E as princesas dormidas ou não eram todas parecidas com as bonecas
Das minhas irmãs
Cedo percebi que os conquistadores massacram
Por isso nunca quis conquistar nada
Cedo entendi que os descobridores persistem
E a minha preguiça nunca me abandonou
O mundo da minha almofada é tão mundo como o vasto mundo
Por isso durmo sonho e não recordo nada
Cresci para cima e para os lados como toda a gente
Tive a minha dose de felicidade amor e aguardente
E continuo a sonhar e a não lembrar
Menos masoquista e menos contente
E dos desejos por cumprir pode ser que numa tarde
Pelo sol poente numa curva da estrada
Me façam matreiros uma espécie de espera
E se cumpram todos como farta fera
Por fim satisfeita em festim alarve
VII - Ovo
Se uma muralha de indiferença te circundasse
Sem ameias nem nada
E voltado finalmente para dentro definhasses só
Sem desejo nem nada
Olharias as pálpebras por dentro
Numa circum-navegação pequena
E não chegarias ao fim como o outro
Seria o teu índio o primeiro
Nau catrineta de cerceadas velas
Vai na corrente da tua própria ancora
Afunda-te e sê o único elo de ti
E mesmo o mar que te cobre não exista
Volta a ser o ovo que nasceu com tua mãe
Ou o ovo da tua mãe que nasceu com a mãe dela
Até não te saberes nem ovo nem mãe nem mar
Donde tantos ovos como tu saíram
E jurando uma jura prenhe
Sê se ainda te restar essência
O ovo grande desse mar de ovos
Mas não choques
Deixa-te estar numa infértil grandeza
Sem ameias nem nada
Sabendo agora sim nada de outro
Sem desejo nem nada
VIII - Redenção
Quando perdia as horas a perder-me em ti
Pareciam poucas as horas em ti
O poder redentor das distâncias
Já não penso já não vejo já não sinto
Nada do que dantes me fazia eu
Mudar na leveza da brisa dos dias
O poder redentor do vento
Ai a mão vazia já nem sabe
As gramas de calor que a queimavam
O poder redentor do gelo
Sou aquele que era antes de ti
Fazes-me a falta de um futuro
Que tornaste impossível
O poder redentor do sonho partido
Mais belo mais ágil mais puro
O amor a mim próprio
Herdei de ti a confiança
O poder redentor da estima
E noto que talvez tenha mudado
Não por tua causa, mas por tua ausência
O poder redentor de não ter ninguém
Agora já não és sombra no deserto do desejo
E isso é bom
IX - Icebergue
Dá-me Deus bela e sinuosa
Numa janela ou numa sacada
Uma mulher como uma enseada
Onde eu me acoite na noite cansada
Abre-lhe os braços num benvindo imenso
Aquece essas águas em que eu submerso
Possa ser o esguio senhor de um cio
Ao lado dela no lugar vazio
Não do coração mas de um peito frio
O amor é um icebergue invertido
Com a parte maior ao cimo dos mares
Todo ele brilha e todo ele é grande
Mas o que ele é não é bem aquilo
Sigo a seta como me ensinaram
Almejo a meta como peremptória
Mas sei que não reza a história
Dos fracos como eu não resta memória
Mas o que eu quero não é bem vitória
X - Submisso
Pela usura penetrante dos aromas
Pela lisura perfurante das peles
Pelo toque pelo beijo pelo
Esvoaçar constante do cabelo
Deixa que em caixa de segredos mágicos
Eu me guarde para ti como uma promessa
Mas promete que me abres num dia de chuva
Em que a promessa de mim todo te apeteça
Pelo palomino pálido da pradaria imensa
Pelo azul da baleia azul calcorreando o azul
Pelas costas prateadas do gorila nas encostas verdes
Pela união das térmitas nos seus castanhos cones
Deixa-me ser um animal de companhia
Que se esquece em casa todo o longo dia
E que no abrir cansado da porta de entrada
Aparece surpresa mansa e desarmada
Por mim que mereço e sou bom
E faço tudo o que me mandam e mais
Por mim outra vez porque te mereço
E por ti porque acho que mereces mais
A roda do amor tem aro e eixo
A pedra da calçada duas cores
A porta do quintal tem trinco e fecho
Só meu coração não tem calores
Frio e vento rodopiam na manhã
E têm abraço e propósito
A chuva ao cair tem o chão a recebê-la
E eu sigo assim sem ira e ócio
Não me adianta o eco de mim
Gritado pelas pedras velhas
Habituei o ser assim
Ao deserto de noites vazias
Ocasionalmente cheiro o ar
E o resto do incenso dos teus dias
A sombra nublosa do luar
Lê em mim como só tu lias
Mas não faz diferença
Não pesa muito
Eu ser presença
Sem haver outra
Crónica oca o verso
Um poço de desejos jamais concedidos
Busco a rima e uso
Bocados de mim que julgo perdidos
II - Havia
Do verso como prédio
Já narrei as razões
Esqueleto de aço
Coberto a paixões
Alicerce fundo
Telhados coroados
E no meio o mundo
Dos feitos passados
Escrever para lá
Adivinhar futuro
Não das minhas mãos
Só olho para trás
Fosse minha a vista
De um amanhã provável
Fosse galo em crista
De uma luta afável
Terreiro em mundo plano
Esquecer alturas
Fabricar minúcias
Vácuas duradouras
Às vezes sonho o fim da lágrima
Como o fim do rio numa bela foz
Mas sei a sal temperada a voz
E o coração instância última
E o meu é triste
Porque assim nasceu
O meu prédio é pardo
Contrastado a breu
Ai mas quando amanhece
Entre rosas e malvas
E abro janelas para nuvens calmas
Sei-me devagar para além de triste
E abro a porta à esperança fugidia
Num rompante meigo de alegria
Misto de mim e esperança minha
E acredito em mais, muito mais que havia
III - Tronco
Na curva na lomba para lá da estrada
Em que espera solene uma outra alma
Falta-me outro passo outra encarnação
Um recomeço um ir uma nova canção
O verso imbricado em lira não me diz
Nem metade das coisas que vi e fiz
Ler o futuro entre as linhas não sei
Cego entre um passado que nem passei
Tento na bruma a definitiva quadra
A palavra moldura que a vida enquadra
Mas resto vazio oco e na mudez primeva
Como um tronco seco que o rio leva
IV - Espirito
Perdi alguns dias em nuvens de haxixe
Afundei-me lento em largos copos
Aprendi que o mundo é pouco plano
E que os nossos olhos mudam com o vento
Alternar realidade e substância
Sabendo substantiva a alternância
Tomar a alteridade como norma
Saber o mundo composto de mudança
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
O riso de erva ecoava nos arcos do Aqueduto
Subíamos descíamos dávamos três palmadas na estátua do Camões
E ia-mos comer batatas fritas à Rua das Matemáticas
Sem cálculo
E penso o composto como adubo
Não tanto como bloco de armar
E penso que me passaram pelos olhos novas qualidades
E consciente e inconsciente fogem ao conceito de juízo
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
Santa Teresa d’Ávila flutuava em bolores
Santo António pregava a peixes
Uma vez na Figueira falei com ursos
E deixava-me cair onde calhava
Tenho para mim que abrir os olhos
Nos faz tanto mal como bem
E no entanto há que abri-los
Mesmo quando não convém
Dois dias sem dormir
Um dia sem comer
Quarenta pelo deserto
E espírito, espirito aberto
V - Paixão
Esperar por ti é dor e sossego
Porque esperar custa
Mas eu sei quem espero
Renunciar ao amar
Sempre me pareceu raro
Amar não admite estar errado
Não te amo mais
Não pertence ao momento
Nomeia o processo, o movimento
Não te amo mais
Não o diz o amante
Amar é sempre a constante
O que derruba então
O amor do peito, da cabeça, do gesto?
O medo, o hábito, o desejo, o resto?
Não sei
Amo todas as mulheres que amei
Sucedem-se no tempo numa cornucópia
Eu fico elas vão
E aparecem outras num baile de caras
E eu visto em máscara uma nova paixão
VI - Alarve
Ai as saudades que eu tenho dos desejos que tive
Dos cumpridos menos
Dos por cumprir mais
Ai as saudades do querer sem poder e sofrer por sofrer
Numa espiral de dor aguda de masoquista êxtase
Cavaleiro andante de comprida espada matador de dragões
Não pude ser
Faltava cavalo dragão não havia e a espada era uma cruzeta velha
Curta e de madeira
E as princesas dormidas ou não eram todas parecidas com as bonecas
Das minhas irmãs
Cedo percebi que os conquistadores massacram
Por isso nunca quis conquistar nada
Cedo entendi que os descobridores persistem
E a minha preguiça nunca me abandonou
O mundo da minha almofada é tão mundo como o vasto mundo
Por isso durmo sonho e não recordo nada
Cresci para cima e para os lados como toda a gente
Tive a minha dose de felicidade amor e aguardente
E continuo a sonhar e a não lembrar
Menos masoquista e menos contente
E dos desejos por cumprir pode ser que numa tarde
Pelo sol poente numa curva da estrada
Me façam matreiros uma espécie de espera
E se cumpram todos como farta fera
Por fim satisfeita em festim alarve
VII - Ovo
Se uma muralha de indiferença te circundasse
Sem ameias nem nada
E voltado finalmente para dentro definhasses só
Sem desejo nem nada
Olharias as pálpebras por dentro
Numa circum-navegação pequena
E não chegarias ao fim como o outro
Seria o teu índio o primeiro
Nau catrineta de cerceadas velas
Vai na corrente da tua própria ancora
Afunda-te e sê o único elo de ti
E mesmo o mar que te cobre não exista
Volta a ser o ovo que nasceu com tua mãe
Ou o ovo da tua mãe que nasceu com a mãe dela
Até não te saberes nem ovo nem mãe nem mar
Donde tantos ovos como tu saíram
E jurando uma jura prenhe
Sê se ainda te restar essência
O ovo grande desse mar de ovos
Mas não choques
Deixa-te estar numa infértil grandeza
Sem ameias nem nada
Sabendo agora sim nada de outro
Sem desejo nem nada
VIII - Redenção
Quando perdia as horas a perder-me em ti
Pareciam poucas as horas em ti
O poder redentor das distâncias
Já não penso já não vejo já não sinto
Nada do que dantes me fazia eu
Mudar na leveza da brisa dos dias
O poder redentor do vento
Ai a mão vazia já nem sabe
As gramas de calor que a queimavam
O poder redentor do gelo
Sou aquele que era antes de ti
Fazes-me a falta de um futuro
Que tornaste impossível
O poder redentor do sonho partido
Mais belo mais ágil mais puro
O amor a mim próprio
Herdei de ti a confiança
O poder redentor da estima
E noto que talvez tenha mudado
Não por tua causa, mas por tua ausência
O poder redentor de não ter ninguém
Agora já não és sombra no deserto do desejo
E isso é bom
IX - Icebergue
Dá-me Deus bela e sinuosa
Numa janela ou numa sacada
Uma mulher como uma enseada
Onde eu me acoite na noite cansada
Abre-lhe os braços num benvindo imenso
Aquece essas águas em que eu submerso
Possa ser o esguio senhor de um cio
Ao lado dela no lugar vazio
Não do coração mas de um peito frio
O amor é um icebergue invertido
Com a parte maior ao cimo dos mares
Todo ele brilha e todo ele é grande
Mas o que ele é não é bem aquilo
Sigo a seta como me ensinaram
Almejo a meta como peremptória
Mas sei que não reza a história
Dos fracos como eu não resta memória
Mas o que eu quero não é bem vitória
X - Submisso
Pela usura penetrante dos aromas
Pela lisura perfurante das peles
Pelo toque pelo beijo pelo
Esvoaçar constante do cabelo
Deixa que em caixa de segredos mágicos
Eu me guarde para ti como uma promessa
Mas promete que me abres num dia de chuva
Em que a promessa de mim todo te apeteça
Pelo palomino pálido da pradaria imensa
Pelo azul da baleia azul calcorreando o azul
Pelas costas prateadas do gorila nas encostas verdes
Pela união das térmitas nos seus castanhos cones
Deixa-me ser um animal de companhia
Que se esquece em casa todo o longo dia
E que no abrir cansado da porta de entrada
Aparece surpresa mansa e desarmada
Por mim que mereço e sou bom
E faço tudo o que me mandam e mais
Por mim outra vez porque te mereço
E por ti porque acho que mereces mais
13 Comments:
Começo pelo I
Vou andar a saltar por aqui, pelo menos, em 10 comentários distintos!! :)
"... um poço de desejos jamais concedidos..."
:)
É mais ou menos assim que a vida nos surpreende com demasiada regularidade, não é?
"... lê em mim como só tu..."
olha, se há coisa que deve ser, simultaneamente, tão boa e tão assustadora, é isso... alguém que lê em nós e nos lê no que mais guardado somos...
"... bocados de mim que julgo perdidos" ...
:)
dizer o quê?... não sei dizer melhor.
Ah......
"Ruína Romântica" fez-me lembrar Conímbriga... eheheh
:)
II
Eu também acredito em mais...
por isso é que a vida, tantas vezes, dá estes nós que entalam caminhos e nos faz rodopiar sem sair do lugar, perdidos.
Outras vezes deve ser teimosia. Deve ser medo de perder o pé e ficar preso num pilar diáfano mas magicamente resistente... aos nossos olhos, resistente.
oh... sei lá...
"E abro a porta à esperança fugidia
...
E acredito em mais..."
Sabes como é, não sabes? o meu problema é fechar portas. Mudar de via. sair desse para entrar noutro caminho. Andar sempre como se cada passo fosse começado num novo caminho.
depois... por isso, talvez, canso-me e desisto. Passo a vida a desistir. a abrir mão. A ir embora! :)
mas tu sabes! por isso é que é preciso que eu vá e que ninguém comigo siga, porque quando parto é diferente de ti, que abres a porta ainda que a esperança seja fugidia!!
ao contrário de ti.... e da Maria...eu falo tão pouco....
Tu insubmisso.
beijo.
(é verdade... falo demasiadamente demais!;))
III
"...não me diz
Nem metade das coisas que vi e fiz
..."
Palavra nenhuma conseguiria fazê-lo.
Talvez porque nem nós teremos presente tudo isso, tudo que fizemos, que fomos, por onde andámos...
a ideia de ver, dizer, fazer, contar... fez-me saltar a memória para os trabalhos de Rui de Carvalho (o antropólogo, claro!) quando conta que muito houve que viu e contou, mutio que não contou mas viu...
quando diz que alturas houve em que não podia escrever porque não andava a viver... e aqui eu paro.
Tenho de parar!
Encontrei razão para as minhas próprias palavras secas e agora espero e descanso...
:)
IV
Abrir os olhos e ver?! uhm... talvez.
mas gosto mais assim:
Como nos Percursos dos bons tempos de actividades com o Centro Pedagógico-Artístico do CCB... Fechar os olhos para ver melhor!!!
Mesmo a ler-te foi muito isto que lembrei, fechar os olhos ao vento, impedir que nos desvie o olhar, forçar o desejo e subitamente, acordar!
Ando farta destes dias sem dormir,
destes dias sem comer,
deste palmilhar o deserto...
:)
(e ainda faltam 6!!!)
V
Esperar é dor.
Não consigo entender a coisa sem esse peso de dor. E eu odeio dores! :)
Fartei a vida com esperas. Com uma espera. A espera absoluta. Durou tempo demais. Gastei-me demais. Acalmou-me, é certo. Fez-me ganhar em paciência, reconheço. Mas também me fez sentir na pele (e eu odeio dores!!) que a frase feita de -quem espera desespera- é verdade e feia.
:)
Sabes qual é a minha grande verdade e a verdade que me afasta da tua?
É que eu nem em poema seria capaz de vestir em máscara uma nova paixão!!
Pois é... por muito que uma espera me tivesse largado presa num tempo que nunca mais terei, quando a paixão me agarra... é de todo, e sempre sem máscara! Só assim.
:)
Ai mas quando amanhece
Entre rosas e malvas
E abro janelas para nuvens calmas
Sei-me devagar para além de triste
__________________e hoje escolhi assim!.
_______________
e gosto de ler a Maria...a falar assim.
beijo. aos dois. pode ser?
Olá, i.
Por mim, pode! :) e aproveito para deixar xis, também!!
Vamos lá então...
VI
uhm... a preguiça nunca nos abandona! :) Nem quando lhe dizemos que já não precisamos mais dela!!
O mundo da almofada é o mundo de todos os possíveis... digo eu, que raramente saio daqui!
Sonhar e não lembrar também me é familiar... agora há uma circunstância estranha em que, sempre que adormeço, sonho... mas até isso já deve ter passado. Sou da forma do efémero.
Os desejos? cumprirem-se todos? oh oh... nunca! se há coisa que creio que nunca deve acontecer é isto mesmo... é preciso haver sempre, pelo menos um, desejo por cumprir!!
VII
olha... não sei se pode ler-se "a coisa" como a minha cabeça fez mas, assim que corri as linhas, alguma coisa me deslocou à ideia de uma amiga quando ela dizia: "construí a mim mesma uma ratoeira e atirei-me lá p'ra dentro de cabeça"... talvez tenha misturado tudo assim que vi a experiência de olhar as pálpebras por dentro e me senti amarrada, presa sem ver mais que menos que o bocadito de mim.
Numa armadilha, lá está...
Mas ovos só gosto dos estrelados. ou do doce. e até são exagero de colesterol, se só as gemas...
eh...
está a dar-me para a asneira, é da possibilidade da assimilação a galinha. e da verdade da infertilidade. leva-me ao rodopio da tonteria!
:)
VIII
o poder redentor do vento!
e o deserto do desejo...
o futuro tornado impossível é coisa que percebo bem.
Mas... repara, se depois do fututro impossível fica o amor a si mesmo e a confiança recuperada... oh! futuros desses fazem-me falta! :)
se mudar se sente depois como acontecimento bom... oh! faz-me falta a impressão!
Deixar de ser sombra... isso sim, pode ser mudança muito boa!
IX
:)
Olha, está, definitivamente, a dar-me para o desvario!!
Depois de ler assim, cheguei às frases do mfc no pé de meia, num ápice! o amor é... ou melhor, o que o amor não é! e, definitivamente, qual iceberg qual carapuça!! :) que dele tenha o brilho da gigantesca base voltada ao sol, até admito mas... zumba, lá submerge em vã glória: falta-lhe sapata, falta-lhe sustento, falta-lhe estaca em que se aguente!
O brilho inicial desfeito num pézinho frágil... :) esta imagem agrada-me! parece-me que aqui sim, o amor anda a ser tomado assim! :)
(eheheh... a sorte é que sabes que quando me dá para descrer... sou mais como os burros do que os burros sabem ser!)
e, por fim,
O Fim!
X
...
Pois animal de companhia só conheci um e vou "ser-lhe fiel" até ao fim dos meus dias...
Gente como animal de companhia não é bom! quer dizer, gente tem de ser surpresa boa, é certo, mas tem de ser mais luta que olhar doce, tem de ser mais complicado que a vida boa de companheiro de ter em casa.
A própria ideia deixa-me desconfortável... nunca imaginaria desejar ser vista assim, pensada assim... iahc... muito menos vir a desejar em alguém ver assim, sentir isso.
(Talvez por isto ter tido no Assis o mais completo cãopanheiro que alguém pode ter: era boxer! era bruto! era surpresa e era festa! mas dava luta! sabia até onde ir e como estar, sabia que tinha muito mais força, sim, força física, força bruta e sabia como a controlar! gostava de música e sentia-a ao jeito dele, acompanhava-me no bom e no triste, na festa e na zanga. Era surpresa mansa mas jamais o veria como surpresa desarmada!!)
Jamais submisso!
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