terça-feira, janeiro 16, 2007

Acorda! ( a M. )

Porque é que a inteligência, supostamente o maior dos bens, a suprema qualidade, não nos protege da estupidez quadrúpede, do medo imbecil, do receio absurdo, da dúvida pueril? Porque é que ver mais longe significa, bastas vezes, ver mal ao perto? Génios, aos montes, conhecidos pelas distracções, fobias, manias, extravagancias e maldades? E estúpidos, como portas, como gonzos de portas, como pregos de portas a andar de leve pela vida e tudo corre bem, e tudo é liso, e tudo é bom. Será que como a múmia, a inteligência está munida da respectiva maldição?

Há uns anos, dizia o Isaias, o do Benfica, “O Isaias nunca foi problema, foi sempre solução”. Há menos anos, dizia-se, já no Sporting, “Edmilson resolve”. A inteligência, se fosse futebolista diria, como o insigne Portista, “Prognósticos só no fim do jogo”. É uma ferramenta, a inteligência, e vale pelo uso que lhe damos. E, brilhante ou não, não vale nada nas mãos de quem não a quer fazer valer. Eu sei, eu sou um desses. E conheço muitos como eu. Mais brilhantes, menos brilhantes, mas desajustados ao extremo da inércia, incapazes de sair de casa pelo próprio pé, de alinhavar duas palavras, de gritar a revolta ou sublinhar o conforto. Porque somos inteligentes, julgámos, ou fizeram-nos julgar, que herdaríamos a terra. E o factor trabalho nunca foi incutido, o factor carinho nunca foi medido, o factor exposição nunca foi descoberto. E o desajuste entre o que vemos e o que somos e o que queremos ser e ter deixa-se ampliar pelas faculdades cognitivas. A inteligência é uma maldição. Mas não é a maldição da múmia.

A maldição da múmia implicava a perturbação do sono do ente que espera, cumpridos os rituais, uma vida eterna na companhia dos seus deuses. A maldição da inteligência não tem nada a ver com sono, mas com o desejo adormecido, com a inércia de ver como se faz e achar que compreender é fazer andar. Não é. O deus da inteligência é a ideia de si própria, e não tem pés de barro, mas sim pés de chumbo. E requer toda a energia pessoal para evoluir. Senão é, como dizia Onassis da Callas: foi um belo apito, mas agora está estragado. Deixou-se morrer a Callas. A minha inteligência também andou morta durante alguns anos. E a tua, se não acordas, vai-te morrer aos poucos.

Acorda!

3 Comments:

Blogger maria said...

Há aqui coisas que me fazem ficar descansada! :)
Eu não pertenço a esse grupo de donos de inteligência que aqui descreves!!! Logo, não poderei nunca estar amaldiçoada! ahahah...

É que, repara, a mim sempre me foi passado o valor supremo do trabalho (e eu sempre o tive como fundamental! ainda que tenha sido sempre-talvez demasiado-baldas... ou leviana, como se queira...);
depois falas, cheirou-me que em contraponto, no factor carinho desmedidamente votado a esses tais, inteligentes... pois eu cá, na minha educaçãozinha espartana, que foi especialmente frugal em festinhas e afagos, também não me posso rever nesse grupo preciso;
avanças com o factor exposição... ora esse baralhou-me, confesso! :)

Mas...
Vamos lá ao que importa: a única maldição que encontro para algumas formas dessa dita inteligência é, precisamente, ter "a mania dela", da inteligência, lá está! Nunca me achei nada de especial por aí... aliás, nem sei de quanto será o meu QI e, em termos da emoção, pois, essa nova forma de inteligência: a emocional! devo estar abaixo do sofrível! ;)

Ah, como se não bastasse, a Callas!!! oh, senhores, ainda que não seja uma total cana rachada, qualquer alusão à Callas, cala qualquer um!!

Contudo... (sim, em vez de um "mas" lá arranjou esta um contudo!), então, contudo: Concordo contigo! Importa é acordar e crer, como dizia o Picasso, que a inspiração só nos apanha se já estivermos a trabalhar! ou quando estamos a trabalhar!

eheh
disse

terça-feira, janeiro 16, 2007  
Blogger paulo said...

Não intentei descrever-te; não és descrevivel, quanto mais num post. Especificando os factores, são factores, ou seja, os diferentes casos medem-se numa mesma escala, neste caso 3: tens de trabalhar tudo ou não precisas de fazer nada, andam contigo ao colo ou nem se lembram dos teus anos, abrigam-te debaixo da saia ou exibem-te mozartianamente. Quanto a QI's: sabes que também não sei o meu, mas não é preciso escalas para se saberem estas coisas. Eu por exemplo sei que o teu QI é bem maior que o meu, e sei que o meu não é pequeno. Mas é isso que eu digo no texto. inteligência é ferramenta, não mais. E digo para a usarem, os que lerem. Tu, foi só uma dedicatória, não foi tiro ao alvo. Xi. E já agora, Acorda! só para ti.

quarta-feira, janeiro 17, 2007  
Blogger isabel mendes ferreira said...

upps..............


já sai....




a morrer....mt e aos poucos.

quinta-feira, janeiro 18, 2007  

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