sexta-feira, agosto 26, 2005

Canções e Alegria

A Maria diz que hoje acordei a cantar; ontem alguém achava a bloguice triste, deprimida e deprimente. Vai uma canção de fim-de-semana, que escrevi vindo da Gala, no comboio para Coimbra. Era onze de Setembro, eu estava a abarrotar de Xanax; em casa soube; a tragédia acontecera à minha frente, quando eu olhava o Atlântico. Ficou-me sempre esta trova, feliz e drogada, associada às funestas torres. Talvez solta-la aqui me mate algum fantasma.

9/do onze ( a NY )

Na praia da Gala
Bem juntinho à Cova
Está-se bem ao sol
Como o caracol

Na praia da Gala
P’ra lá da Figueira
O Mar é bem manso
A Onda ladeira

Vim pr’aqui de longe
Demorei-me às horas
Valeu bem a pena
Penar as demoras

Há mulheres bonitas
Crianças brincando
Homens a pescar
Há o Mar tamanho

E aqui estou eu
A mirá-lo azul
Sonhando meu Sul
Adiado e belo

E aqui estou eu
Meigo e delicado
Comprimido Malva
Foi-me receitado

Vou-me embora já
À hora do Chá
Foi bom ter cá vindo
Voltarei sorrindo

Vou que tenho d’ir
À Coimbra Branca
Ver a torre altiva
Citadela Branca

Onde irei estudar
A mãe das ciências
A Filosofia
E compor cadências

Que quero de versos
Montar meu futuro
Que quero de mim
Construir um muro

Onde colem cartazes
Onde pintem cores
Onde namorados
Escondam seus amores

Construir sementes
Pô-las germinando
Num vaso pequeno
P’ra ganhar tamanho

E se nunca crescer
Nunca tal semente
Nunca serei eu
O que tal lamente

Que p’ra mim são belos
Os meus versos lindos
E a Filosofia
Que fique p’ra tia

Adeus então Gala
Bem perto da Cova
Vou à tal Figueira
Depois vou no Lar

Ver o pôr do sol
De um belo balcão
Findar mais um dia
Fica esta canção

E se não ficar
Ficará alguma
Que o povo qu’é meu
Não é de calar

As gargantas seguem
Só muda o rifão
Poetas são muitos
Só uma a Canção!

5 Comments:

Blogger maria said...

:)
Acordaste sim, a cantar!
Já me tinhas falado deste Onze... mesmo à tua frente.
Olha, para não variar, cá vai, deixa-me lá escolher bocaditos que me sabem bem...
(Zás! lá vai ela trocar as voltas ao autor!...)
"Está-se bem ao sol
Como o caracol"
Devia ter ido contigo, nesse dia. Ou n'outros. Melhor será ir contigo outros dias... reparaste que só temos tido sol com vento e de rio?

"Valeu bem a pena
Penar as demoras"
É... também julgo que sim. e, se poetas os há tantos, que seja -em forma adulterada- como disse o Pessoa, quando a alma não é pequena, vale mesmo a pena! e se a tua vale! :) e a minha espera por ela!

"Há o Mar tamanho"
sim... que ruge baixinho e doce, ali ao longe mas ainda à vista, à noite, sem luz, nem brisa... onde quero voltar!

"Construir sementes
Pô-las germinando"
Posso dizer-te que já as construiste? sim, às sementes de muita árvore, de raiz funda... tão funda!
Repara, continua a crescer. Sinto-lhe a raiz chegar mais longe. Mais dentro. Mais perto.

"Só uma a Canção!"
Deixas-me escolher uma? Também tua, claro. Sempre tua. Posso? Escolho a Fé. Sim, a de ontem aqui deixada. Faço-a minha.

:)
* muitos

sexta-feira, agosto 26, 2005  
Blogger dulcehelenaguerreiro said...

Com os amigos que aqui já tem, corre o risco de ficar sem espaço para os fantasmas. É mesmo boa ideia começar a soltá-los.
Boa noite.

sábado, agosto 27, 2005  
Blogger mfc said...

É bom sinal quando se acorda a cantarolar... é sinal que se está de bem com a vida.

sábado, agosto 27, 2005  
Blogger batista filho said...

cantar...
cantar é bom

todo canto
tem seu encanto

todo cantar
provém de cantos
e recantos... alguns profundos
... e se espalham no ar

um abraço fraterno

segunda-feira, agosto 29, 2005  
Blogger paulo said...

Batista, seu avaro sítio não só me come os comentários, mas vêda meu acesso aos comentários alheios. restam seus textos, magnificos; resta o importante. Abraço.

segunda-feira, agosto 29, 2005  

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