quinta-feira, outubro 12, 2006

Castelos

Uso o desejo como areia corre pela mão e escreve letras e forma palavras. Ocasionalmente o vento apaga-me os desejos, abranda-me a mão. Mas não faz mal. Areal largo, o da minha vontade. Amplo e seco.

Debaixo do céu baixo, carregado e carrancudo, parecem os dias estreitos na horizontal e a chuva afirma e renega em bátegas intermitentes, semafóricas. Podes com calma laranja. Ai quem me dera um verde liberdade, um vermelho negação.

Tropeço na corda simbólica serpenteando-me o ir, e olho nuvens com o espanto imóvel de saber-me aqui. A par chuva e sede. Sedes. Chuvas. Aguaceiro é uma palavra traiçoeira. Tanto húmido tanto encharcado. Se o desejo tivesse estado, era líquido.

Observo a tentativa de verso, espalhado. Se o verso tivesse estado, era gasoso. Sólida só a apetência por som. Entre cego e surdo hesitei outro dia. Deixar as nuvens ou o trovão a vaga ou a ressaca da onda? Escreve-las sonoras num Braille ofuscante?

No tempo dos castelos fazer castelos de areia era privilégio real? E castelos no ar, prerrogativa dos anjos?

1 Comments:

Blogger Sophie said...

agora neste instante e ao ler-te, desmascarada de todas as marcas e castelos de areia, sei que o vento passou-me ao lado; tão devagarinho que quase não o senti; para me desfazer do que não volta...

Talvez eu regresse... mas não ainda.

Beijo

sexta-feira, outubro 13, 2006  

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