segunda-feira, novembro 13, 2006

O Sul Adiado

O mar de Novembro é meigo como alguém que fez mal e agora procura remendar as coisas. À minha esquerda praia a perder de vista, a direita apenas cimalhas de um prédio feio, que alguém insistiu em construir sobre a duna primária. Num país de progresso não se pode ser primário, duna. Aprende e recua.

O mar arrulha num murmúrio como se o sol o acariciasse até ao gemido, e eu encho os olhos de azul e a pele de raios. Lavei a cara e o pescoço e sinto cristais de sal nas maçãs do rosto e nas sobrancelhas, e apetece-me a água que deixei em casa. Tanta água à minha frente e eu quero é doce. Um homem é feito de desejos desfeitos.

Deito-me na toalha a receber o sol, o som da onda quase imperceptível. E juro a mim mesmo, porque a praia é toda minha, que nunca tive um dia de praia tão perfeito. 10 de Novembro e o sonho dos trópicos esmorece nestas areias do Norte. Não vale a pena correr para o outro lado do mundo. Tenho o Paraíso à porta. O Sul, esse, continuará adiado.

2 Comments:

Blogger Sophie said...

São tão bons estes momentos em que nos deixamos navegar em nós próprios... em nossas memórias, em nossos sentimentos já tão guardados.
Sentimo-nos saudáveis, ao sentir que ainda conseguimos sentir.
Um beijo meu.

terça-feira, novembro 14, 2006  
Blogger mfc said...

O que podemos descobrir nas coisas simples que nos cercam e querem destruir!
Que a duna continue primária...

quinta-feira, novembro 16, 2006  

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