terça-feira, novembro 21, 2006

Bethooven

E como é gostar? E como saber? E o fim de sermos, onde começa? E acaba bem? Começou bem? Acabará, ou restará em rasto de cometa muito depois de nós? Vi um filme sobre Bethooven e as suas partituras, a sua surdez e a sua raiva, e uma ninfa que se esmerava em filtrar a música para ouvidos humanos. Vi naufragar o bote dos meus amores, e só se perdeu o bote.

Cheguei a casa ontem e ouvi a nona duas vezes. E o hino a alegria não me satisfez. Não é do hino, é de mim. Não cabe agora alegria no meu peito. A minha alegria afinal era um bote, vazio e pouco ágil nos mares picados. Ao menos se tivesse timão, mas nem leme tinha. Era, sempre foi, um esquife com dois remos e um remador inábil. Nem sei como nadou a terra.

Bethooven corria as noites de Viena regendo e cantando e sabendo que a sua solidão de urso seria a primeira nota de toda a música futura. O imenso surdo sabia que não ouvia para não sentir medo de si próprio. Eu já não sei nada. Falta-me talvez a ninfa. Tenho talvez excesso de ninfas. Logo à tardinha vou ouvir a nona outra vez. E se não for desta, outras virão. E que reme outro, que me cansam as costas.

2 Comments:

Blogger Sophie said...

Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?

... o amor sem conta, destribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor...

Beijinhos

terça-feira, novembro 21, 2006  
Blogger mfc said...

Bethooven é a eternidade em si.
Contém a humanidade... tal qual Atlas, ele carrega a sua enorme dádiva ao mundo.

quarta-feira, novembro 22, 2006  

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