sexta-feira, novembro 17, 2006

Splash

E um tubarão de fome antiga fera por não se saber outro salta do peito ao olhar alguém. E a mandíbula escancarada rutila em dentes agudos e a impressão obliterada fecha-se num final feroz. Ser assim fome e dente e não ser mais nada. Ser assim antes da história e continuar a ser igual por não ser necessário mudar. O bicho fera em mim anda domado, mas tem saudades de sangue e arena. Nem que de circo. Nem que por instante breve de flash e splash.

Homem moderado, delicado e de bom gosto, procura Mulher que o transtorne. Fotografia na primeira carta. Antes havia cavalheiros no correio sentimental, senhoras viúvas, jovens e sós. Agora é mais o imediato virtual e a webcam. Ganha-se tempo e detalhe, e o transtorno nem precisa de toque e de partilha de espaço. Caí no meu ecrã e diz que me amas. Eu não acredito, mas gosto. E o tubarão quase agradece não ter de matar mais.

Sorvo outra cerveja com a sensação de a já ter bebido antes. Um comboio vai partir à hora e tenho de estar em São Bento daqui a já. Há um terminal de net na gare e abro a minha página a procura de mim; não consigo aceder aos comentários, e fico com a impressão que procurava outro. Ai andar perdido pelo Porto ainda me sabe bem. E ao zumbido da cabeça que já não sabe beber chega-se agora o do Urbano. A selecção ganhou e eu voo para casa.

2 Comments:

Blogger Sophie said...

Existe nessas palavras algo de tempestade, algo indomável... algo silêncioso que o vento sacode na sua crina e se divide em ondas e fúrias. Existe uma violência natural. Relâmpago e luz, grito e estrondo. Depois disso? depois disso o silêncio das grandes reconstruções. Pedra sobre pedra, palavra sobre palavra. Edificar e unir o que as palavras deixaram dispersas sobre os escombros da última conversa.

Um XI grande!

sexta-feira, novembro 17, 2006  
Blogger mfc said...

E assim se vive...parte em sonho, parte em deambulações sem grande sentido!

domingo, novembro 19, 2006  

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