quinta-feira, dezembro 20, 2007

29 de Fevereiro

Adormecer o sono pesado pétreo. Não lembrar o sonho. Esse de acordado tenho basto. Mergulhar em mim a quotidiana noite, emergir os despertares insossos, inodoros, indolores. A química. A anestesia. A simetria de estado. O paralelismo mental. Não quero ir dormir porque não quero acordar, acordar não apetece, dormir não se vai.

O carrossel diário na feira já não nómada, estável, com morada fixa e cadastro limpo. A vida sã porque se estoirou a possibilidade de uma outra vida, e o corpo já paga o que não gastou ainda, as vontades, os quereres e os prémios pagos por cauções de dúvida. Ai o correr de noites, que não correm afinal, ou se correm correm em circuito, com a falsa curva para o espectáculo, a recta para acelerar, a meta, o champanhe e os louros. Quadrigas de hábito, as noites.

Mais um ano. Bissexto.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Ó da Guarda!

Ó guarda de honra de meus fiéis defuntos
Sucedam-se alas ladeando a via
Ó lista longa
Zebra do meu destino
Entre a luz e a sombra

( Hoje pus duas estátuas no quintal
Para atrair os pássaros )

Queria o rigor de um versejar moderno
Mas não conheço outro

Quedo-me

Na vertiginosa ravina
À bolina do vento selvagem
Iludindo rocha e corte

A alma é rapina entre as urzes
Garra de ponta e mola
Voa o dia entre a longa noite

Ó guarda de honra de meus fiéis defuntos
Sucedam-se alas ladeando a via
Ó caminho longo
Ó e a noite fria

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Dois ( a I. )

Na transposição compassada dos montes
Desço
Subo
Transponho

Ir
Ir sempre
O caminho é a transcrição do ser

Ser agora é contigo
E comigo

Ser agora é dois
E os montes

Dois é relevante
Nós dois

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Finlandês

Fiquei a dever alguma coisa? É a pergunta que me resta. Ficou de ti um pedaço de dúvida. Pequena, grande, não pesa diferente. É uma dúvida. Uma soma que se recusa. A prova dos oito.

Num minimalismo crescente de sobrevivente ao Outono, ergo-me ao sol pálido. O dia decrescente iluminado novo por uma nova lâmpada na iluminação pública. Nos meus privados pátios. Um furacão parece ter passado aqui, na república dos ramos partidos. Instituída por regicídio em tesoura e serra.

A minha língua não me chega por estes dias perdidos. Ando corpo todo. A parte língua anda submissa ao frio e ao novo. Sinto-me apanhador de lenha. Aforro para o montante frio. Estou com a gula do pretexto Inverno. Não se faz; está muito frio. Há um Finlandês encarcerado no meu peito, em grades de gelo e lenha.