Da Cor, do Excesso de Cor e das Tonalidades Canoras
A single kiss could lead to heaven canta o King Kole no stereo acompanhado pelo George Shearing em 1961. Um preto cantor e um branco cego. Começavam os raging sixties. Ho yea! Um pianista cego num meio sonoro. Não há imagem para ninguém. És tão antigo diz-me uma amiga. E sou. Será que o George sentia a negritude do Nat pela textura forrada da voz? Acredito que sim; tinha ouvido mais que suficiente. A Lei das Compensações é profundamente inconstitucional, e ninguém faz nada. Quatro melhores sentidos em troca do quinto. Compensa? Troco o meu direito por estes, prescindo de ser Cidadão da Real República da Bela Vista para ser súbdito do ouvido nariz sabor e cheiro. Numa plebeu nos outros funcionário de topo. A Lei das Compensações deveria incluir cláusulas compensatórias. E avisos, como os maços de tabaco. O preto achava que fumar lhe aveludava a voz; morreu como todos os fumadores invertebrados. Agora mandou-me un void and empty space que quase me preencheu. O preto canta mesmo bem. O cego é extraordinário também, como diria Gil noutro mais tropical contexto. Que também é preto mas tem três olhos. E com este são três discos. O primeiro nem nome tem, é só Nat King Cole sings George Shearing plays, o segundo é o Acoustic o terceiro é o Prenda Minha do Caetano. O meu preto é o preto que ele descreve por lá. Vão lá ver e percebem. Já desejei um mundo daltónico, já quis Luz, agora só me apetece ouvir o Haiti no Tropicália 2. E o Stevie cantado pelo Ministro. A percepção da cor é um disparate. Permite as touradas e o impressionismo. Alfa e Ómega um por olho. Devimos ter o olhar analfabeto das bestas. Ouvir é melhor, definitivamente. Por isso calo-me.